No ano agrícola que encerrou em 31 de agosto, os Estados Unidos entregaram a coroa exportadora de milho ao Brasil e pode nunca recuperá-la, assim começa o artigo da Bloomberg que sinaliza a perda da liderança americana sobre o cereal.
O feito da agricultura brasileira já havia sido anunciado em março, entretanto, como a safra fechou no dia 31, o Brasil valida sua liderança no setor, acrescentando que também deve manter a liderança no ano de plantio de 2024, que começou 1º de setembro.
Apenas uma vez, nos dados que remontam à administração Kennedy, os EUA saíram do primeiro lugar: por um único ano, em 2013, após uma seca devastadora. A indústria exportadora de milho estadunidense nunca passou dois anos consecutivos em segundo lugar – até agora, relata a agência.
A mídia ainda afirma que o declínio constante e a perda de competitividade de Washington são um golpe para um país que há muito utiliza a alimentação como força geopolítica.
No auge da Guerra Fria, utilizou seus amplos fornecimentos como ferramenta para impedir a propagação do comunismo nos países em desenvolvimento e chegou mesmo a fornecer cerca de um quarto do seu trigo à Rússia, após uma quebra de colheita no início da década de 1970, relembra.
Esta é uma grande mudança para um país cujo cancioneiro patriótico exalta as "ondas âmbar de cereais" da nação. No seu auge, os EUA exportaram 78% da sua produção anual de trigo, 54% da sua soja e 45% do seu milho; em 2024, prevê-se que esses números caiam para 40%, 43% e 14%, respetivamente. Também representa uma parcela menor das exportações agrícolas globais em geral.
China pode cancelar compra de milho dos EUA em prol de opção mais barata do Brasil
Para o grande comprador agrícola, a China, o Brasil também não traz nenhuma bagagem política. No ano passado, Pequim assinou um acordo para comprar grãos brasileiros para reduzir a sua dependência dos EUA e substituir o fornecimento da Ucrânia. O primeiro carregamento de milho do Brasil sob o novo acordo partiu em novembro.
"O Brasil não é um aliado próximo dos EUA, por isso Pequim sente-se confiante de que poderá continuar a negociar com o Brasil, mesmo que a relação com os EUA se deteriore subitamente [...] o país também precisa de mais do que a Pequim tem para oferecer, como investimento em infraestruturas e tecnologia, fortalecendo ainda mais os seus títulos nascentes", disse Even Pay, analista agrícola da Trivium China ouvida pela mídia.
Na visão de Pay, "não parece provável que a relação diplomática dos EUA com a China melhore muito no curto prazo, o que, gostemos ou não, deixará a agricultura americana em certa desvantagem".
Entre os principais compradores de milho brasileiro estão China, como mencionado, Japão, Coreia do Sul e União Europeia.
Fonte: Agência Sputnik