Em editorial publicado no domingo (8), o jornal Haaretz, o mais antigo de Israel, aponta Benjamin Netanyahu como principal responsável pela guerra Israel-Gaza. "Ele certamente tentará fugir de sua responsabilidade e lançar a culpa nos chefes do Exército", diz o editorial.
Manchete do editorial do jornal Haaretz. Foto: Reprodução
Prossegue o Haaretz:
"O desastre que se abateu sobre Israel no feriado de Simchat Torá é de clara responsabilidade de uma pessoa: Benjamin Netanyahu. O primeiro-ministro, que se orgulha de sua vasta experiência política e de sua sabedoria insubstituível em questões de segurança, falhou completamente na identificação dos perigos para os quais conduzia conscientemente Israel. Ao estabelecer um governo de anexação e desapropriação, ao nomear Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir a posições-chave, ao mesmo tempo que adotava uma política externa que ignorava abertamente a existência e os direitos dos palestinos, ele criou um cenário perigoso.
Netanyahu certamente tentará fugir de sua responsabilidade e lançar a culpa nos chefes do Exército, da Inteligência Militar e do Serviço de Segurança Shin Bet que, tal como seus antecessores às vésperas da Guerra do Yom Kippur, viam uma baixa probabilidade de guerra. Eles desprezaram os inimigos e suas capacidades militares ofensivas.
Nos próximos dias e semanas, quando o avanço das Forças de Defesa de Israel e as falhas de inteligência vierem à tona, certamente surgirá uma exigência justificada para substituí-las e fazer um balanço.
No entanto, o fracasso militar e de inteligência não isenta Netanyahu de sua responsabilidade global pela crise, uma vez que ele é o árbitro final dos assuntos estrangeiros e de segurança israelenses. Netanyahu não é novato neste papel, como Ehud Olmert foi na Segunda Guerra do Líbano. Nem é ignorante em assuntos militares, como afirmaram Golda Meir em 1973 e Menachem Begin em 1982.
Netanyahu também moldou a política adotada pelo efêmero "governo de mudança" liderado por Naftali Bennett e Yair Lapid: um esforço multidimensional para esmagar o movimento nacional palestino em ambas as suas alas, em Gaza e na Cisjordânia, a um preço que parece aceitável para o público israelense.
No passado, Netanyahu apresentou-se como um líder cauteloso que evitou guerras e múltiplas baixas do lado de Israel. Após sua vitória nas últimas eleições, ele substituiu essa cautela pela política de um "governo plenamente de direita", com medidas evidentes tomadas para anexar a Cisjordânia, para levar a cabo a limpeza étnica em partes da Área C definida pelos Acordos de Oslo, incluindo as colinas de Hebron e o vale do Jordão.
Isso também incluiu uma expansão massiva dos assentamentos e o reforço da presença judaica no Monte do Templo, perto da Mesquita de Al-Aqsa, bem como alarde de um acordo de paz iminente com os sauditas, no qual os palestinos não receberiam nada, com conversas abertas sobre uma "segunda Nakba" em sua coligação governamental. Como esperado, os sinais de uma eclosão de hostilidades começaram na Cisjordânia, onde os palestinos começaram a sentir a mão mais pesada do ocupante israelense. O Hamas aproveitou a oportunidade para lançar seu ataque surpresa no sábado".
Fonte: Redação, com DCM