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O terrorista alado

João das Botas

Por Jorge Matos em 15/10/2023 às 08:52:38
Foto: Freepik

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Andava tão pra baixo que minha ilusão de ótica já tinha virado desilusão de ótica. Mas, apesar do estado de espírito pouco propício, botei meu calção de banho (short de praia) e fui refrescar o desânimo no bar da Angélica. Afinal, era uma tarde ensolarada em Mar Grande, o mar brilhava refletindo os raios do sol, e o bar à beira-mar estava cheio de pessoas felizes, desfrutando de suas bebidas refrescantes.

No meio dessa multidão, lá estava eu, um homem comum, sentado em um canto, observando algo que me fez perder a fala: uma moça deslumbrante com cabelos negros como as asas da grauna (verdade que nunca vi as asas da grauna, mas ouvi falar), pele morena e olhos azuis como o oceano. Uma mistura ibérico/angelical/indianista.

Eu estava completamente encantado, mas havia um problema: não consegui reunir a coragem necessária para falar com ela. Trocava olhares furtivos, engasgava com suas palavras e derramava metade da cerveja toda vez que a olhava. Era como se estivesse possuído por um espírito trapalhão sempre que pensava em me aproximar da divindade.

Meu amigo Tinho, que observava de longe e percebeu minha aflição, decidiu dar uma mãozinha. Ele se aproximou de mim, com um sorriso sacana no rosto.

"Vamos lá, João! É só uma garota. Você consegue!" Disse, tentando me encorajar.

Aassenti com a cabeça, enquanto tentava, desesperadamente, reunir coragem. Respirei fundo, ensaiei algumas palavras na cabeça e finalmente me levantei para me aproximar dela. No entanto, o destino parecia estar se divertindo com a situação.

No momento em que estava prestes a falar com a deusa, um pombo filho de uma égua, que devia ter tido uma overdose de batatas fritas, voou na minha direção e soltou um "presente" líquido esbranquiçado que me atingiu em cheio no ombro, depois de passar a meio centímetro do meu nariz. A 'tigresa', que observava a cena, soltou uma gargalhada. E alí estava eu, de pé, todo sujo de... bem, vocês sabem de que.

Olhei para o céu, jurando vingança contra o pombo terrorista. Tinho se aproximou com palavras consolativas, mas as gargalhadas ecoavam pelo bar.

"Isso não está funcionando, João. Talvez seja um sinal para deixar pra lá", sugeriu ele.

Concordei com relutância e, com a dignidade abalada, voltei a sentar. A 'monumental', vendo o desastre acontecer, se aproximou com um sorriso simpático.

"Você é mesmo engraçado, hein? Nem todo mundo faria o que você fez," ela disse.

Sem saber exatamente o que eu fiz que ninguém faria, e agora todo vermelho de constrangimento, consegui sorrir e, finalmente, começamos a conversar. Enquanto isso, sem dúvida, o terrorista alado, mensageiro do demo, estava planejando sua próxima sacanagem.

E assim, finalmente. encontrei a coragem graças a um pombo escroto desastrado e a uma 'divindade' com um ótimo senso de humor. Às vezes, o amor é uma comédia, e a vida é cheia de surpresas inesperadas, mesmo nas situações mais constrangedoras.

Os leitores que gostam de mim devem estar perguntando: e o que aconteceu entre você e a "divindade"? Respondo: estou com e número do zap dela e fiquei de ligar logo mais à noite.

Os leitores que não gostam de mim, certamente, estão a perguntar: o que ele fez com a camisa suja de... 'bem, vocês sabem'? Respondo: estou esperando seu endereço para enviá-la.

Nota do editor: Os leitores têm o direito inalienável de pensarem o que quiserem. Não cabe ao cronista julgá-los.

Réplica do cronista: vá tomar no fiofó!

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