Pode até parecer mentira, mas garanto que é verdade o que passo a narrar aqui. Fa-lo-ei, entretanto, por ter sido instigado pelo leitor José Mercês a me candidatar a prefeito de Vera Cruz, Bahia. Não pretendo me candidatar nem a este nem a nenhum outro cargo, seja do executivo, do legislativo ou do raio que o parta. Assim como o personagem que passo a narrar, não tenho paciência para aturar os puxa sacos que sempre estão de plantão para tentar uma 'mamatinha'. Dito, isso, vamos ao que me foi narrado por Aristides de Neném... antes, porém, acho importante explicar que em Maragojipe, a cidade mais gostosa do mundo e que fica no Recôncavo da Bahia, as pessoas são conhecidas pelo prenome associado ao prenome ou apelido do pai. Isso, quando se sabe quem foi o pai, claro. Neném era como chamavam a mãe do Arestides.
Aritides me contou que foi candidato a prefeito de Maragojipe, lá pelos anos 60, sem nunca ter sido político. Foi escolhido pelo ex-prefeito Dr. Malaquias e aceitou o encargo por admirar muito o coronel Malaquias e morrer de medo dos seus filhos Orlando, Fernando, Lauro, João e Jorge, que não eram de brincadeiras.
Me contou Aristides: "Fui convidado para discursar na praça da Matriz e, aconselhado pelo Coronel Malaquias, assumi o posto e fiz o esperado elogio à Bahia, a necessidade de reencontrarmos a grandeza ímpar do nosso passado glorioso, soltando algumas frases pacientemente decoradas: se pertenço, e pertenço com muita honra, aos quadros da oposição estadual, oponho-me de igual modo aos poderosos federais. Nesse transe, reclamando pela luz do entendimento e da razão, luto e não cessarei de lutar pela Bahia. A nossa eterna Bahia, aureolada pelas lições do nosso sábio maior, Ruy Barbosa e pela altaneira poesia do insuperável gênio, o vosso e o meu Castro Alves! Deles direi, como digo, que suas efígies imorredouras estão impressas em nossos estandartes, em nossos baianos corações".
Continuou Aristides: "Mantive a tática: Bahia, grandeza, Ruy, glorioso futuro, Castro Alves etc. Na peroração, vi-me interrompido. Um gaiato a gritar: - "Basta de frouxidão! Botem um macho prá falar"! Raciocinando com rapidez, percebi que: 1º) Era essencial terminar a imprudente intervenção oratória, terminá-la logo! E 2º) Devia reagir contra o frenético. Fiado em Orlando, João e Jorge, que assitiam ao discurso, cumpria-me contundir, com resposta máscula, o moleque aparteante, dando prova de coragem conferidora de prestígio. E bradei, pulmões em fogo: "um não-sei-quem-é, contra esse vosso candidato, baiano, patrioticamente baiano, ele empregou o chulo vocábulo "frouxidão". É um provocador, correligionários, amigos, um reles provocador. Esse energúmeno quer atrair-me para um terreno que não é o nosso e nem o vosso, heróicos baianos..." - Nisso vi que Orlando já estava lá, segurando o boiola - . "Não recuso, porém, o desafio, mas, à pútrida lama não descerei. Capadócio, em tal lama arraste-se você e ouça, animálculo, ouça: Frouxo, maldito, é a puta que o pariu! A essa altura Orlando já levava o cara para a lateral da igreja debaixo de muitos cachações. No entrementes, chocado com o palavrão – que hoje já virou moda – o comitê organizador do comício fez apagar as luzes do palanque, enquanto eu gritava que não me segurassem, que por não admitir ofensas à minha honra, iria esmigalhar, com balas, as fuças do bandido, gritei: Exijo que me larguem! Não largaram, ótimo...".
Perguntei se ele usava arma. A resposta veio rápida: "Devo ter sido convincente, mas arma é um utensílio que nunca pretendi à minha disposição em qualquer minuto da minha vida".
Certamente os excelentíssimos leitores e as excelentíssimas leitoras estão a pensar: "será que ele se elegeu?".
Teve apenas um voto. Ele jura que foi o da mulher dele!