"Chica da Silva" e "bruaca" são alguns dos termos pejorativos que uma arquiteta que pediu para não ser identificada ouviu quando trabalhava em uma empresa em Portugal. "Praticamente todos os dias eu ouvia um comentário machista", relembra.
Recentemente, um caso de xenofobia ganhou repercussão nas redes sociais, quando em um aeroporto em Portugal uma cidadã nativa chamou uma brasileira de "porca" e disse que a mulher deveria voltar para o seu país. Por conta do episódio, o ministro da Justiça Flávio Dino repudiou publicamente o ataque sofrido pela compatriota. O deputado Túlio Gadêlha (REDE - PE), relator da Comissão sobre Migrações Internacionais e Refugiados da Câmara, solicitou ao Itamaraty que cobrasse explicações da embaixada portuguesa.
Os eventos, infelizmente, não são casos isolados em um país que entre 2015 e 2021 recebeu mais de 310 mil imigrantes, segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) — unidade do governo português responsável pelo controle de imigração. Com o aumento de estrangeiros residentes em Portugal, o número de denúncias recebidas pela Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), órgão ligado ao Governo de Portugal, também cresceu no referido período — apenas houve regressão nas queixas, assim como no percentual da chegada de imigrantes, de 2020 para 2021, quando o mundo vivia um contexto de pandemia que, conforme registrado pela SEF no Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo de 2021, "provocou uma desaceleração no aumento da população estrangeira residente".
Ao todo, de acordo com dados da SEF de 2021, a população estrangeira residente em Portugal é de quase 700 mil habitantes. Desses, cerca de 29% são brasileiros. "Os brasileiros que eu conheço aqui já tiveram situações de xenofobia", reforça a arquiteta sobre seu ciclo de convívio. Em 2020, a CICDR notificou 655 denúncias, o maior número entre 2015 e 2021. Mas não são todas as vítimas que levam os casos de preconceito às autoridades. A arquiteta ouvida pela Sputnik Brasil, por exemplo, não levou os casos de assédio moral sofridos no trabalho aos órgãos responsáveis.
"Em algumas situações, a gente também não se sente atendido, então não se sente muito motivado a fazer esse tipo de relato, até porque parece que não vai dar em nada", justifica.
Para tentar evitar o ódio gratuito, há quem adote estratégias como se comunicar em inglês em Portugal: "Tenho amigas que preferem fazer isso para não serem identificadas como brasileiras", conta Luiza Cotta Pimenta, que saiu de Juiz de Fora, em Minas Gerais, e está em Portugal temporariamente, por uma oportunidade de passar um período do doutorado fazendo pesquisa fora do país — etapa conhecida como doutorado sanduíche.
Fonte: Agência Sputnik