Dizem que brasileiro 'dá nó em pingo de éter', no que, pelo menos em parte, eu concordo. Mas eu convivi com um, por todos conhecido como "Pente Fino" que desatava o dito nó. Pente Fino era a expressão humana da personagem literária de Mário de Andrade, "Macunaíma", que tinha particularidades que o caracterizavam e o diferenciavam das demais pessoas como, por exemplo, suas muitas travessuras e uma exacerbada preguiça. Das inúmeras 'travessuras' do inimputável Pente Fino, destaco uma: assim como eu, ele trabalhava, aos domingos bem cedo, na distribuição domiciliar do jornal semanário soteropolitano IC. Seu roteiro era do Porto da Barra até o Farol, incluindo as ruas internas. Do Farol até o Morro Ipiranga, a tarefa era minha. Certo dia, os banhistas se depararam com centenas de jornais boiando na praia contígua ao Farol.
Denunciado o fato à direção do jornal, o diretor Maurício Naiberg (a quem a Bahia deve uma homenagem) interpelou Pente Fino e este, cínicamente, apontou a mim como o autor do mal feito. É óbvio que ninguém acreditou em Pente Fino, mas a cara de pau do mesmo era tamanha que provocava dó; daí o dito cujo jamais foi punido.
Contei essa história para exemplificar o comportamento de milhares de "Pente Finos" que permeiam o nosso (lá deles!) comércio. Isso se torna mais visível na tal da "Black Friday", invenção dos estadunidenses que os "criativos" brasileiros importaram. Não sei se lá nos 'esteites' é igual, mas aqui, com honrosas exceções, a tal da Black Fridey não passa de uma 'bleque fraude'. A foto que ilustra esta crônica é um exemplo dentre milhares de outros.
Agora há pouco ouvi no supermercado uma senhora afirmar, assustada com o preço de um produto: "Breke Fraidei uma ova". Talvez fosse mais correto dizer: Black Friday my ass!