"Máscaras – entreATOS do Acervo" é a nova exposição do Centro Cultural Solar Ferrão (Rua Gregório de Mattos, 45), no Pelourinho, que abre na Galeria Ferrão nesta quinta-feira (30), às 16h, com participação do DJ Pivoman. A mostra reúne cerca de 100 máscaras, 40 máscaras "Geledés" e 50 de outras etnias de povos africanos. A curadoria é de Nivia Luz, Mestre em Cultura e Gestora do Instituto Oyá e de Adriana Cravo, diretora do Solar Ferrão. Já o DJ Pivoman é o nome artístico do músico, artista visual e pesquisador musical, Ítalo Oliveira. Nos seus sets ele desbrava sonoridades e ritmos afrodiaspóricos.
De acordo com a diretora geral do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), Luciana Mandelli, as máscaras integram a coleção Claudio Masella de Arte Africana, acervo fixo do Solar Ferrão.
"Essa mostra segue a curadoria geral dos museus do IPAC que tem realizado exposições "entreATOS" com recortes do acervo de cada unidade museológica", explica Luciana, adiantando que "Máscaras" fica em cartaz durante todo o verão 2023/2024.
"Já no início de dezembro, anunciaremos o projeto "Verão nos Museus" com extensa programação", adianta Mandelli. Além do Ferrão (Pelourinho), o IPAC administra o MAM (Avenida Contorno), o MAB (Corredor da Vitória), MAC (Graça) e Museu do Recôncavo (Candeias), dentre outras importantes coleções de arte.
"Essa é a primeira vez que as "Máscaras Geledés da Coleção de Arte Africana" são expostas na sua totalidade", diz a diretora do Ferrão e curadora da mostra, Adriana Cravo.
Ela ressalta que o Ferrão tem capitaneado grandes atividades no Pelourinho, como a última mostra "Brasil Futuro – as formas da Democracia" que teve recorde de público e de frequência de estudantes. "Além de ser um Monumento Nacional originário do século XVII e tombado pelo IPHAN desde 1938, o Ferrão é considerado uma "âncora" artística e cultural para a região do Centro Histórico de Salvador", conclui Adriana.
Geledés
As máscaras "Geledés têm simbologia e significados sagrados e profundos em alguns povos africanos, principalmente da Nigéria, Benin e Togo. Originalmente "Geledés" representa uma forma de sociedade secreta feminina de caráter religioso existente nas sociedades tradicionais Yorùbá. Expressa o poder feminino sobre a fertilidade da terra, a procriação e o bem-estar da comunidade. O patrimônio oral "Geledés" foi inscrito em 2008 (proclamado em 2001) na Lista dos Bens Culturais Imateriais da Humanidade da UNESCO.
A curadora Nivia Luz, destaca que a exposição traduz também uma Bahia singular.
"O reflexo das "Geledés" está no cotidiano de Salvador. É como olhar-se no espelho e ver os inúmeros rostos desconhecidos que transitam pelas ruas e singram pelas águas os contornos mais bonitos dos ancestrais", relata.
Para ela, as máscaras "Geledés" são expressões e representações sociais que em determinadas culturas podem ser um dispositivo para narrar a história e preservar memórias. "São elos para a comunicação entre deuses e o homem", completa Nivia.
Jogo sutil
As máscaras "Geledés" são utilizadas por membros de uma instituição tradicional Yorùbá para cultuar de forma coletiva o poder ancestral feminino. Elas são compostas por uma parte em madeira esculpida na forma de uma cabeça humana ou de animal. A parte de madeira, que fica na cabeça como um capacete, geralmente fixa-se um prolongamento de fibras, tecidos ou roupas. As "Geledés" são usadas para aplacar a ira das ÃŒyàmì, uma das mais importantes e perigosas divindades do Candomblé. Elas são poderosas e ligadas à fartura nos campos e à fertilidade das mulheres. É um culto às mães ancestrais. Essas grandes senhoras são consideradas o maior símbolo do poder feminino da cultura Yorùbá.
"Quem se mascara subverte as ideias. A interpretação não faz sentido se apenas empunhar o racionalismo como resposta ao que não se vê. É o jogo sutil da subjetividade. Não importa quantas vezes você vá ao Ferrão e experimente olhar para uma máscara Geledés, todas as vezes, será a primeira", finaliza Nivia Luz.
Mais informações sobre o Ferrão no perfil @museusdabahia do instagram e no telefone (71) 3116-6740. Sobre o IPAC, no site www.ipac.ba.gov.br e instagram @ipac.ba.
Coleção de Arte Africana Claudio Masella: Claudio nasceu em Roma (Itália), em 2 de agosto de 1935. Morou por muito tempo na Ãfrica desenvolvendo atividades no setor de fabricação de móveis. Era um amante da arte africana, tendo colecionado por mais de três décadas objetos de formas, origens e significados diversos. Após ter se casado com a brasileira Conceição Ramos Masella conheceu Salvador (BA) e se apaixonou pelo povo baiano, manifestando interesse em deixar sua coleção acessível à população da cidade, por ser a capital do país com maior proporção de afrodescendentes. Seu objetivo era que esse acervo pudesse contribuir para a difusão da beleza e do conhecimento sobre a história da arte africana.
A coleção, que totaliza 1.039 objetos, foi doada ao Governo da Bahia em 2004. Após chegar em Salvador, grande parte dos objetos recebeu ações de conservação e restauro. Também foram feitos o inventário museológico e a pesquisa de identificação das peças, tendo em vista que não havia documentação primária e que o colecionador faleceu em 2007 sem deixar registrado seu depoimento sobre a constituição do acervo.
Os objetos não foram datados por métodos físico-químicos adequados, mas pela análise morfológica e pelo seu histórico podemos situar a coleção na fase pós-colonial ou contemporânea, produzida a partir da segunda metade do século XX. Nesse período, sobretudo após as independências dos países africanos, temos no campo das artes escultóricas o incremento das inovações de material, estilo e função dos objetos.
Fonte: Assessoria de Comunicação - IPAC