Banner Local 01 728 x 90

Uma história de lutas, traições e fuzilamentos

A história das lutas da independência na Bahia

Por Jorge Matos em 01/07/2023 às 16:01:21
Foto: Max Haack/Secom/Salvador

Foto: Max Haack/Secom/Salvador

O brigadeiro Ignácio Madeira de Melo, no comando das tropas portuguesas, ataca a toda carga o general Pedro Labatut, em Pirajá. As tropas brasileiras, em franca desvantagem, não estavam preparadas para a defesa. Incompreensível e inesperadamente, o corneteiro Lopes emite toque de avançar, embora tivesse ordens para orientar a retirada. Ainda hoje se discute quanto às suas intenções ou embaraço, hipótese que alguns contestam com a pauta de sons militares da época, cujos sentidos eram opostos e dessemelhantes. Mas o fato é que o brigadeiro português teve que recuar. Entretanto, sua perspicácia sugere um contra-ataque e ele lança em sua dianteira cerca de 300 escravos. Muitos morreram, outros tantos ficaram feridos, poucos conseguiram escapar. Setenta foram aprisionados pelos brasileiros. Cinquenta homens foram fuzilados e vinte mulheres açoitadas até a morte, por ordem do comandante brasileiro.

Essa é uma das tantas marcas que compõem a história das lutas da independência na Bahia, triste e violenta como a própria essência da guerra, mas ao mesmo tempo cheia de atos de bravura e coragem. As traições, os interesses e empenhos individuais não ficaram de fora e se confundiam de parte a parte. Os baianos alimentavam um profundo ódio pelos portugueses e muitos deles até mudaram o sobrenome, renegando a própria descendência. O padre Manoel José de Freitas passou a se chamar Manoel Dendê Buz. Paradoxalmente, o oficial da armada portuguesa João Francisco de Oliveira Botas teve atuação destacada na luta pela causa brasileira.

A fome ameaçava as poucas famílias que ainda ficaram em Salvador, sob total domínio dos portugueses, a 7 de setembro de 1822. E os baianos nem sabiam que D. Pedro tornara pública as intenções de separação, num arroubo de coreografia, quando voltava de São Paulo para o Rio, com o Grito do Ipiranga. O ódio era acirrado em ambos os lados. O conde dos Arcos, ex-capitão general da Bahia, não pode desembarcar em Lisboa, onde os grupos invadiram o "edifício da praça do Comércio e arrancaram seu retrato do salão, por conspirar contra as cortes". Os ingleses começaram a prestar estranha colaboração à Independência: estavam "transbordantes de liberdade" na época e tinham seus interesses em jogo.

Traição e bravura

A princípio, legião de caçadores, regimentos de infantaria e artilharia brasileiros foram vencidos e a cavalaria "quase toda de brasileiros", passou "para o outro lado". O comandante Manoel Pedro de Freitas Guimarães foi aprisionado no forte de São Pedro e são tomados como exemplo de bravura, ainda hoje, as mortes de Joana Angélica e do capelão Daniel Lisboa. Ela tentou impedir a entrada de soldados portugueses, às portas do convento da Lapa, e foi atravessada por uma baioneta, enquanto ele caiu sob golpes de coronhas. As outras freiras recolhem-se ao convento do Desterro. As das Mercês fogem para a Soledade.

As tropas brasileiras derrotadas nos primeiros embates refugiam-se no forte de São Pedro. Dia 19, Madeira de Melo abre fogo contra a fortaleza. Dia 20 determina sua total destruição. Mas nessa noite o tenente coronel Bernardino Alves de Araujo sai do forte e vai ao encontro do comandante português. Promete abrir os portões na manhã seguinte, sem nenhuma resistência.

Dia 21 de manhã o oficial brasileiro cumpre a promessa. Mas Madeira de Melo só encontra no forte o brigadeiro Manoel Antonio, o tenente-coronel Bernardino, dois capitães e alguns cadetes. Após dois dias sem pão nem água, a tropa havia fugido durante a noite, pelos fundos da fortaleza, utilizando cordas. Uns para a Gamboa, que fica à margem do mar e adjacente ao forte, outros pela estrada de Brotas, Itapuã e pelos caminhos que levavam ao interior. Depois, reagruparam-se nas vilas do Recôncavo – Cachoeira, Santo Amaro e São Francisco do Conde – e organizaram o exército da libertação.

Barris de pólvora

Em Itaparica cria-se um foco de resistência, e tão hábil que os comandantes conseguem atravessar as linhas inimigas para mandar a Cachoeira 100 barris de pólvora e armamentos retirados da fortaleza. Aí montam-se fortificações em Amoreiras, Aratuba, Barra do Gil, Santo Antônio e Mocambo, confiadas a João das Botas, que consegue a grande vitória no "combate do Funil". Entre as ilhas.

Na vila de São Francisco do Conde são formadas resistências pelos proprietários de terras. Em Cachoeira, uma milícia sai de Belém, inicialmente com 100 homens armados, contando depois com o reforço de mais 400 civis. Nesta cidade constitui-se uma Junta de Conciliação e Defesa que passa a dirigir a reação contra uma escuna portuguesa no Paraguaçu, "disparando contra o povo". Em Salvador, Labatut cercara a cidade com duas brigadas: ao Norte, com sede em Itapuã, e ao Sul, em Pirajá. E muitos pontos do litoral são fortificados, como Saubara, onde o vigário Bernardo custeou as armas e ele próprio passou a dar instruções militares aos homens.

Uma questão de jurisdição militar leva Labatut ao desentendimento com o Conselho de Cachoeira. Decide então prender outros comandantes, mas à sua retaguarda estão as conspirações de bastidores. Vencido, ele é recolhido em Maragogipe, enquanto o coronel Felisberto toma o controle da luta. E depois de batalhas em Brotas e Itapuã, vence os portugueses, a 2 de julho de 1823. Sorrateiramente, eles conseguem embarcar à noite e são perseguidos pelos navios ingleses até perto de Portugal.


Monumento ao 2 de Julho, Campo Grande, Salvador. Foto de Rodolpho Lindemann (1895)

O índio teve participação importante nas lutas pela independência na Bahia. Ele é tido como "o verdadeiro brasileiro", o nativo da terra, que somou seus esforços aos demais combatentes. Em sua homenagem, em 1895, foi erguido um monumento na Praça 2 de Julho (Campo Grande), em Salvador.

O Caboclo e a Cabocla, representam o exército brasileiro, composto por voluntários, negros libertos, soldados regulares, tupinambás entre outros que combateram pela independência na Bahia.



Fonte: Revista Viver Bahia

Comunicar erro
Banner Local 02 728 x 90

Comentários

Banner Local 03 728 x 90