Em meio à melhoria do cenário econômico no país, as concessões de crédito para o consumo de bens (veículos, por exemplo) têm crescido a um ritmo mais forte do que as relacionadas à contratação de dívidas – cartão à vista, parcelado e arredamento, e como crédito de dívida, cheque especial, crédito pessoal não consignado, parcelado e rotativo. Para especialistas ouvidos pelo jornal Valor Econômico, esse movimento se fortaleceu neste início de ano e pode dar uma contribuição importante para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).
Segundo a matéria do Valor, publicada na segunda-feira (1), em janeiro o crédito livre à pessoa física associado ao consumo subiu o dobro daquele ligado a dívidas: 14,4%, contra 7,1%, ante igual período de 2023. "Não são coisas apartadas, a divisão tem intersecções. Mas é uma forma de olhar linhas mais condizentes com a lógica de consumo e outras ligadas a um endividamento caro", diz Marco Caruso, economista-chefe do PicPay, entrevistado pelo jornal.
A notícia do Valor cita entre as principais causas desse movimento o aumento da geração de empregos e da renda e a queda da inadimplência.
Os fatores citados pelo jornal são resultantes de diversas ações governo Lula que contribuem para o reaquecimento da economia, como o fortalecimento dos investimentos federais, a ampliação de crédito pelos bancos públicos, a renegociação de dívidas pelo programa Desenrola Brasil, políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família; ampliação da taxa de isenção do Imposto de Renda até dois salários mínimos e a antecipação do 13° dos aposentados e pensionistas que recebem benefícios do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Aumento do saldo de crédito em 2024
A matéria do Valor destaca que o Banco Central aumentou sua projeção de crescimento do saldo de crédito em 2024 de 8,8% para 9,4%, segundo o Relatório de Inflação (RI) trimestral de março, divulgado na semana passada. O crescimento do crédito livre para pessoas físicas passou de 9% para 10%, enquanto para as empresas subiu menos, de 7% para 7,5%.
O texto acrescenta que, na ata da reunião de março, divulgada também na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC destacou que o crédito, além da renda, tem se comportado de forma a atenuar a desaceleração da atividade no período recente e citou "o ciclo de crédito em fase de retomada" como um dos fatores que devem levar a um "consumo resiliente".
Retomada do consumo
Ao longo de 2022, ambas as categorias de concessão de crédito estavam em queda, "seja porque, do lado da demanda, as pessoas estavam muito endividadas, seja porque, do lado da oferta, os bancos colocaram um freio", recorda Caruso, na matéria do Valor.
Desde meados de 2023, porém, enquanto a porção de crédito mais ligada à dívida seguiu em contração, a parte de consumo se estabilizou e, então, começou a subir, abrindo o que economistas chamam de uma "boca de jacaré" em relação ao outro indicador.
"É como se tivesse ocorrido uma arrumação na casa, tanto por parte das famílias quanto dos bancos, e, agora, vemos um começo de volta da confiança de se tomar e ofertar crédito. Parece uma condição melhor de contorno do consumo e do crédito das famílias", diz o economista.
Agora, as concessões de crédito totais estão cerca de 30% acima do pré-pandemia, segundo o PicPay, mas para consumo estão 89% além e, para dívida, 55% acima. A constatação bate com o cenário macroeconômico geral, observa Caruso. "Temos cortes da Selic que já começam a aparecer nos juros para a pessoa física, é um primeiro alívio. E vemos a inadimplência melhorando", afirma.
Ainda na matéria do Valor, Caruso chama atenção também para o menor comprometimento da renda das famílias com dívidas, ainda que isso esteja se dando, por ora, mais pela redução do principal (montante inicial da dívida) do que pela queda dos juros em si.
"Vemos uma melhora da renda e da capacidade das pessoas de amortizarem suas dívidas, o que conversa bem com o que estamos observando no mercado de trabalho e na renda do trabalhador. O grosso da história ainda não é tanto pelos juros, que, agora, estão melhorando também", diz Caruso.
Além disso, segundo o Valor, os economistas do PicPay apontam como este ciclo de alívio na inadimplência tem sido mais rápido do que em outros momentos de aperto, como no fim de 2015. "Aquele foi um período bem mais complicado, o PIB caiu mais de 3%", lembra Caruso.
A notícia destaca também que, em 2023, o PIB subiu 2,9% e, para 2024, a expectativa é que avance 1,85%, segundo a mediana das estimativas do Focus, pesquisa do Banco Central com agentes do mercado. Mas instituições financeiras têm elevado suas projeções, em parte, exatamente por causa dos sinais vindos do crédito.
O Itaú Unibanco, conforme o Valor, incorporou uma perspectiva mais positiva para concessões de crédito, especialmente à pessoa física e habitacional, na sua última revisão de PIB para 2024, de 1,8% para 2%. Já segundo o BTG Pactual, dados de crédito de janeiro sinalizam que a aceleração projetada acontecerá mais cedo do que o esperado. O BTG projeta alta de 2,3% para o PIB do Brasil em 2024.
"O crédito nunca salva o PIB do Brasil, porque ele é pró-cíclico, ou seja, ele anda quando o PIB já começou a andar. Mas é um reforço, um propulsor para a atividade. Se a pessoa ia consumir "x" sem crédito, com crédito ela pode consumir "2x"", explica Caruso.
A visão é bem melhor para este ano, por exemplo, no crédito ligado à aquisição de bens duráveis, como veículos, menciona Igor Cadilhac, economista do PicPay, outro entrevistado pelo Valor. "É difícil saber se o comportamento diante desse cenário macro melhor vai acabar melhorando a dívida, ou seja, até que ponto a pessoa vai, de fato, pagar", pondera Cadilhac. "Mas, hoje, o cenário parece animador."
Para fevereiro, segundo a notícia, pesquisa da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) a partir de dados consolidados dos principais bancos do país indica um crescimento de 0,5% no saldo total da carteira de crédito, ante janeiro, liderado pelo crédito às famílias.
A LCA Consultores, por sua vez, projeta um crescimento do saldo de crédito livre à pessoa física de 11% em 2024, de acordo com o analista Michael Burt. "O que embasa essa projeção, além da queda da Selic, é justamente um momento único do mercado de crédito, com muitas pessoas bancarizadas, com acesso a conta corrente e outros produtos", diz Burt ao Valor.
Fonte: Site do PT, com informações do Valor Econômico