Salvador-Ba, 14/06/2023 - Os Festejos Juninos são considerados uma das festividades mais tradicionais e animadas do Nordeste brasileiro. Com seus trajes coloridos, comidas típicas e danças contagiantes, as festas juninas se tornaram conhecidas em todo o país.
No entanto, apesar de sua popularidade, algumas tradições centenárias estão ameaçadas de desaparecer, à medida que as novas gerações se distanciam cada vez mais dessas raízes culturais.
Jogos e brincadeiras que já foram parte integrante da celebração junina estão se perdendo na memória dos jovens. O tradicional jogo de argolas, no qual os participantes tentam acertar as argolas em garrafas, já não é mais comumente visto nas festas juninas. O mesmo acontece com a pescaria, uma atividade que costumava ser muito praticada pelas crianças, mas que hoje dá lugar a jogos eletrônicos e brinquedos tecnológicos. Assim também é a divertida disputa para ver quem consegue subir no pau de sebo, um mastro de madeira untado com sebo, com o objetivo de alcançar o prêmio colocado no topo.
Danças como a quadrilha e o conhecido "casamento na roça", a barraca do beijo, a eleição e desfile da rainha do milho também estão em declínio. O ritmo contagiante da música nordestina, que embala os passos coreografados, vem perdendo espaço para uma mescla de gêneros mais populares. Enquanto isso, a dança do forró, que outrora fazia parte do repertório das festas juninas, está sendo substituída por outros ritmos mais modernos.
A música, elemento essencial dos festejos juninos, também sofre alterações. Os ritmos tradicionais como o xote, baião e coco estão em decadência, deixando espaço para o predominante funk e o sertanejo universitário. As letras das músicas também passaram por transformações, muitas vezes perdendo sua riqueza poética e reflexões regionais características do Nordeste.
As quermesses desempenhavam um papel fundamental na influência e na construção das tradições dos festejos juninos. Esses eventos festivos, que combinavam elementos religiosos e folclóricos, proporcionavam um espaço de sociabilização e celebração da cultura popular. Nas quermesses, era possível encontrar comidas típicas, como o milho assado e a canjica, além de brincadeiras e jogos tradicionais. Essas festas também fortaleciam o sentimento de comunidade e contribuiam para a preservação e valorização das raízes culturais.
Diante deste cenário preocupante, é necessário buscar alternativas para preservar essas tradições tão importantes para a identidade cultural nordestina. Um dos caminhos é a inclusão dessas práticas nas escolas, tanto nas aulas de educação física quanto nas aulas de história e cultura regional. Além disso, é fundamental que as famílias incentivem seus filhos a participarem das festas juninas, resgatando assim o interesse pelas brincadeiras e danças tradicionais.
Outra medida é promover festivais de músicas e danças juninas, que valorizem os ritmos tradicionais, criando espaços para os jovens demonstrarem seu talento nesses gêneros musicais. Além disso, é importante conscientizar a população sobre a importância de manter viva essa tradição e como ela contribui para a preservação da cultura nordestina.
Segundo o professor piauiense, radicado em Campina Grande, na Paraíba, Alfranque Amaral da Silva, pesquisador cultural, além de mestre e doutor em engenharia elétrica pela UFCG, "o registro das Matrizes Tradicionais do Forró pelo IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, como patrimônio cultural imaterial do Brasil, proporcionou uma ampla abordagem, em 10 anos de fóruns realizados em diferentes estados do país, de assuntos relacionados à produção, distribuição, divulgação e leis de fomento cultural" desse gênero musical típico dos Festejos Juninos. "Com o status de bem patrimonializado, o Forró receberá atenção especial do Estado, que deverá implementar políticas para preservar e fortalecer a tradição. Além disso, os projetos relacionados ao Forró poderão ser enquadrados no artigo 18 da Lei Rouanet, garantindo incentivos fiscais para empresas e pessoas físicas que investirem no patrimônio cultural", completou.
Os Festejos Juninos são mais do que simples festas populares, eles são um reflexo da identidade cultural do Nordeste brasileiro. Portanto, é fundamental valorizar e resgatar essas tradições, para que elas não se percam no tempo e continuem a encantar gerações futuras, conectando o passado com o presente e preservando a riqueza cultural do Nordeste.
Fonte: HOJE BAHIA