Brasil mantém apoio à reforma do Conselho de Segurança da ONU como critério para adesão de novos países ao BRICS e aposta na categoria de países parceiros. Após dias de reuniões, o sherpa do Brasil no BRICS, embaixador Eduardo Saboia, revelou à Agência Sputnik Brasil os principais avanços nas negociações.
Nesta terça-feira (22), representantes do Itamaraty finalizam as negociações sobre a nova expansão do BRICS e os termos da Declaração Final do grupo. Os resultados serão divulgados durante a Cúpula de Chefes de Estado de Kazan, a ser realizada entre os dias 22 e 23 de outubro.
O embaixador Eduardo Saboia, responsável pelas negociações no âmbito do BRICS, passou os últimos dias cumprindo agenda intensa na Reunião de Sherpas do grupo, iniciada no dia 17 de outubro. Em conversa com a Sputnik Brasil, o diplomata afirmou que a maratona de negociações foi concluída com sucesso.
Um dos pontos focais da agenda foi o estabelecimento de uma categoria de países parceiros do BRICS e seus respectivos critérios de admissão.
"A discussão de critérios para parceiros foi concluída exitosamente e ela inclui aspectos que nós consideramos importantes, como a ideia de que os países [parceiros do BRICS] não devem adotar sanções unilaterais, que devem ter relações amigáveis com todos os países do grupo e apoiar a reforma do Conselho de Segurança da ONU", disse Saboia à Sputnik Brasil.
Para o embaixador Saboia, a inclusão da reforma do Conselho de Segurança na agenda de negociações do BRICS coaduna com o objetivo do bloco de promover a reforma da ordem global.
"Esse é um aspecto importante, já que o BRICS será uma força de transformação da governança global. E essa transformação também requer a reforma do Conselho de Segurança. Portanto, isso foi aprovado", informou Saboia.
Reunião dos sherpas/su-sherpas dos países BRICS em outubro de 2024 na cidade russa de Kazan - Foto: Sputnik Brasil
Apesar da cobertura midiática da Cúpula de Kazan estar focada na seleção de países candidatos a entrar no BRICS, o embaixador Saboia confirma que a inclusão de novos membros plenos na agremiação, por enquanto, não está na agenda.
"Não há uma discussão sobre a ampliação dos membros, [ ] o foco é na categoria de países parceiros, que participam das sessões em separado das de líderes e de ministros das Relações Exteriores. Essa é uma prática que já existe, e a categoria de países é uma maneira de organizar essa prática e de dar a ela maior previsibilidade", disse Saboia.
De fato, declarações recentes de autoridades como o presidente russo Vladimir Putin e o vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Ryabkov, notam a necessidade de consolidar a entrada dos novos membros plenos do BRICS, como Egito, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Irã, antes de iniciar uma nova rodada de expansão.
"Apesar de a questão dos critérios para países parceiros estar ganhando muita atenção, eu acho que o grande aspecto dessa reunião [em Kazan] é que estamos reunindo todos os novos membros. É a primeira vez que, em nível de líderes, reuniremos o BRICS ampliado", declarou Saboia. "E isso é um exercício muito importante, porque exige o debate sobre os assuntos que antes eram discutidos somente entre os cinco, e agora terão um espaço muito maior."
O sherpa brasileiro ainda notou os avanços realizados no setor financeiro, um tema caro para a presidência russa do BRICS. O tema estará na agenda dos chefes de Estado nesta quarta-feira (22) e será mantido na lista de prioridades durante 2025, ano em que o Brasil assume o comando do grupo.
"Houve um bom avanço na área de cooperação financeira. Os ministros das Finanças tiveram reuniões nesse ano de presidência da Rússia, e esse trabalho vai prosseguir", disse Saboia. "Essa área deverá receber um novo impulso agora com a reunião de líderes e que vai continuar da presidência russa para a presidência brasileira."
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, é recebido no aeroporto de Kazan para participar na 16ª Cúpula do BRICS, na Rússia - Foto: Sputnik Brasil
O representante do Itamaraty declarou estar otimista com a presidência brasileira do bloco, apesar da necessidade de acumular a função com a organização da Conferência das Partes do Clima, em Belém do Pará. Por isso, o Brasil planeja realizar a próxima Cúpula do BRICS já no primeiro semestre de 2025.
"O Brasil tem uma tradição de fazer presidências com bons resultados como, por exemplo, a fundação do Novo Banco de Desenvolvimento, [também conhecido como Banco do BRICS], que foi durante a presidência brasileira do BRICS [de 2014]", lembrou Saboia. "Mas como teremos a Conferência do Clima no fim do ano, achamos prudente realizar [a Cúpula do BRICS] já no primeiro semestre."
O representante do Itamaraty garantiu que o calendário apertado não prejudicará a liderança brasileira do bloco, que será exercida ao longo de todo o ano.
"Os temas da nossa presidência refletem as prioridades dos países do BRICS. Na presidência brasileira do G20, procuramos imprimir maior ênfase em alguns eixos: combate à pobreza e à fome, desenvolvimento econômico, sustentabilidade e reforma da governança global. Acredito que esses eixos estarão refletidos na presidência brasileira do BRICS. Mas lembro que é um trabalho coletivo e todos os países terão suas contribuições a dar na presidência brasileira", concluiu o embaixador Saboia.
Nesta terça-feira (22), os preparativos para a Cúpula de Chefes de Estado do BRICS seguem em Kazan, com as delegações focando na agenda bilateral. No período da manhã do horário local, o presidente russo Vladimir Putin se reuniu com a presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, Dilma Rousseff.
Durante a tarde, o presidente russo deve realizar conversa telefônica com o seu homólogo brasileiro, que não pôde comparecer a Kazan por recomendação médica.
A agenda do presidente russo para esta terça (22) ainda inclui reuniões bilaterais com o presidente da China, Xi Jinping, da África do Sul, Cyril Ramaphosa, e com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Fonte: Agência Sputnik