Naquela linda manhã de domingo eu caminhava entre o Farol da Barra e o Morro do Cristo entre divagações filosóficas. Pensava em Epicuro, um filósofo grego da antiguidade. Ele acreditava que a raiz do sofrimento humano estava nos medos infundados, especialmente o medo dos deuses e da morte, e nos desejos excessivos. Segundo Epicuro, ao compreender a natureza do universo e ao cultivar uma vida simples, podemos superar essas tiranias e alcançar a paz interior (ataraxia*) e a felicidade. A frase "Os medos e desejos nos tiranizam" se repetia no meu cérebro numa cadência rítimica semelhante ao batuque dos tambores do Olodum.
Repentinamente, me deparo com Afrodite, que caminhava no sentido contrário. "Só pode ser ela, pensei. Um ser humano não pode ter tanta beleza e irradiar tanto desejo". Ao passar por ela, não consegui me conter e disse:
- Deusa!
Ela sorriu seu melhor sorriso e seguiu.
Lá se foi minha jornada em busca da ataraxia. O desejo embotava meus pensamentos; comecei a relembrar os amores de uma vida inteira, os correspondidos e os nem tanto, a atração e o medo que sentia ao me aproximar das mais belas garotas. Sempre fui assim: só queria as mais belas e, consequentemente, as mais disputadas.
Voltei para casa e adormeci. Ao acordar, por volta das 14 horas, já restabelecido do encontro com Afrodite, voltei a meditar sobre o estoicismo e a ataraxia tão desejada. Depois de muito pesquisar, soube que o estoicismo é uma filosofia fundada na Grécia antiga por Zenão de Cítio por volta do século III a.C. Ele ganhou popularidade no Império Romano com pensadores como Sêneca, Epicteto e o imperador Marco Aurélio. Os estóicos acreditavam que a chave para uma vida feliz e virtuosa estava em viver de acordo com a natureza, aceitando o destino com tranquilidade e controlando as emoções. Para os estóicos, a natureza tem uma ordem racional, e o ser humano deve viver de acordo com essa razão universal, aceitando o que está além de seu controle. Para atingir a ataraxia, temos que distinguir entre o que está dentro do nosso controle (nossas ações, pensamentos, escolhas) e o que não está (opiniões alheias, eventos externos, circunstâncias). Devemos focar apenas no que podemos controlar.
O estoicismo é frequentemente associado à ideia de resiliência emocional, autocontrole e uma visão pragmática da vida. Mesmo hoje, a filosofia continua popular, inspirando pessoas a lidarem melhor com os desafios da vida cotidiana.
Os estóicos acreditavam que a virtude — ou seja, a sabedoria, justiça, coragem e temperança — era o único bem verdadeiro. Riqueza, saúde e status eram indiferentes, e o que importava era a conduta ética. Em vez de resistir ou lamentar as adversidades, os estóicos propunham aceitá-las de bom grado, entendendo que tudo faz parte da ordem natural do universo.
Em sociedades modernas, onde o estresse e as pressões sociais muitas vezes geram ansiedade e angústia, a busca por ataraxia seria um esforço para alcançar uma vida equilibrada e satisfatória, não apenas em termos pessoais, mas também em relação à convivência com outros. Sociologicamente, esse estado pode ser relacionado ao bem-estar psicológico coletivo, onde as estruturas sociais e culturais permitem um equilíbrio que evita que os medos ou as pressões sociais prejudiquem o indivíduo.
* Ataraxia: Refere-se à paz interior e serenidade que vem ao aceitar o que não podemos mudar e viver em harmonia com a natureza. É o estado de imperturbabilidade emocional, onde a pessoa não é afetada por desejos ou medos.
Fonte: Redação