Fotos: Carla Lucena
Culinária Musical. Esse é o nome do projeto conduzido a quase 8 anos pelo afro chefe, Jorge Washington. A ação, considerada sucesso de público e crítica, tem uma receita simples que combina uma série de ingredientes: comida boa, música de qualidade, uma dose generosa de ancestralidade e uma pitada de empreendedorismo. Tudo isso, misturado com a alegria das pessoas que participam dos encontros, realizados mensalmente na Casa do Benin.
De acordo com Washington, o objetivo principal do Culinária Musical é reunir pessoas e espalhar alegria em cada nova edição. Ele conta que quando idealizou o conceito de "Culinária Musical", há cerca de oito anos, a ideia central sempre foi essa: "mais do que apenas refeições, eu quero sabores e memórias, trazendo de volta pratos tradicionais que, com o tempo, foram ficando em segundo plano".
A ideia deu certo e hoje o Culinária atrai um público fiel, que sempre volta e faz questão de convidar amigos e familiares para conhecer o projeto, se deliciar com os pratos, além de cantar e dançar aos sons dos artistas que deixam o espetáculo ainda mais especial. No último domingo (09), não foi diferente.
Natural do Rio Grande do Sul, Dona Vera Lúcia está em Salvador há quase dez anos. Sempre que pode, ela dá uma passada no Culinária Musical. Esses momentos, na maioria das vezes, são apreciados ao lado de familiares e amigos. Quando perguntada sobre o que achava do projeto, Dona Vera não economizou elogios. "Eu acho sensacional. Aqui conheci muitos atores, um monte de artistas. Fiquei encantada desde a primeira vez. Sempre que posso, trago as visitas, principalmente os meus conterrâneos gaúchos", afirma.
Na oportunidade, ela estava acompanhada por sua enteada Daniela e pela amiga Vera, com quem mantém uma amizade de mais de 60 anos. A Daniela é gaúcha e a Vera mora no Rio de Janeiro. "Minha mãe adora esse lugar, diz que é muito bom, diz que a música é boa, diz que a comida é boa, comida da Bahia, então eu resolvi vir e comprovar", disse Daniela. Já a homônima de dona Vera, musicista que é, integrante de um grupo de samba carioca, formado por mulheres, compareceu ao projeto atraída pela música.
Nesse dia, o reggae deu o tom com o som de Riane Mascarenhas e a black music foi a aposta de Tai Oliver para fazer a galera cantar e dançar. No cardápio, dobradinha, arrumadinho de fumeiro, moela na cerveja, aipim frito, além da opção vegana; feijão branco com legumes, mas essas opções mudam conforme a edição, podendo contar com feijoada, sarapatel, maxixada, dentre outros pratos, como os carros-chefes.
A programação ainda contou com a exposição de produtos artesanais confeccionados por empreendoderes negros, dentre eles, Viviane Vegasta. Ela fala sobre a importância desse espaço para sua arte: "Como empreendedora negra, trabalhando já oito anos nesse ramo do afroempreendedorismo, é uma honra estar presente nesse projeto que é sucesso nesse meio que também é artístico, cultural, que junta música e gastronomia".
No próximo dia 09 de março, o afro chefe, Jorge Washington, vai realizar mais uma edição do Culinária Musical. A data será especial, pois na oportunidade será comemorado o aniversário de 8 anos de criação do projeto. "Vamos ter uma edição bombada, que eu já sei!", anunciou ele, revelando novidades. " Teremos o meu amigo Dão Black. Ele é um dos grandes parceiros do Culinária Musical ao longo de todos esses anos. Além de Dão, ele adiantou que está em negociações com outras figuras importantes. "Estou conversando com uma pessoa especial pra trazer também. Vamos ter alguns convidados bacanas", revelou.
E não poderia faltar um cardápio à altura da celebração: "Vou tentar trazer um prato bem especial, que é o Bacalhau a Martelo. Esse prato tem um significado afetivo forte pra mim. Foi o primeiro que preparei no Culinária Musical, lá em 2017, ainda na Casa de Pedra. Então quero comemorar com ele também", contou.
Como não poderia deixar de ser, a festa será na Casa do Benin, equipamento cultural que celebra a rica história e a diversidade da cultura afro-brasileira e que, portanto, casou-se perfeitamente com a proposta do Culinária Musical.
"É um lugar perfeito, né? Um museu que funciona como casa de intercâmbio com o Benin, país de onde vieram muitos dos escravizados que chegaram a Salvador. As semelhanças culturais entre nós e o Benin são muitas. Recentemente, o embaixador de lá esteve aqui, e eu servi um sarapatel para ele. Ele falou: "Essa comida é do meu país?" Fiquei impactado, sabe? Pensar que, do outro lado do Atlântico, alguém reconheceu o sabor da própria terra aqui. É muito forte isso."
Com tantas delícias, música e sabores, o convite está feito: vivenciar o Culinária Musical e, quem sabe, sair com aquele gostinho de 'quero mais'.
Fonte: Reportagem: Luiz Pedro Passos