Cadê o filho da mãe?

Gosto dos domingos. Gosto, principalmente, por poder dormir até mais tarde nos domingos. 10, 11 horas; meu recorde, se não me falha a memória, foi em torno das 14 horas. Acontece que esse prazer efêmero (como diria meu amigo Rogér) me foi roubado. Ou melhor, está 'me sendo' roubado por uma voz fanhosa de um jovem cantor que insiste em vociferar no equipamento de som do vizinho de trás: "Cadê seu namorado, moca?" Grita inúmeras vezes o jovem, naquilo que alguns chamam de música.

Assustado, fico a indagar ao meu fecho-éclair (dos botões já consegui me libertar, só uso camisetas): o que será que esse cara quer com o namorado da moça? Que desespero leva o jovem a expressar sua angustia em busca do namorado da moça uma mil, quatrocentas e treze vezes em uma só música? Estaria ele apaixonado pelo namorado da amiga? Provavelmente não. Talvez o namorado a ser encontrado (assim espero) esteja lhe devendo uma quantia que tomou emprestado e não pagou no prazo acertado. Pela angústia contida na pergunta, o montante deve ser considerável.

É possível, e até provável, que o resto da letra da música esclareça o que o 'fanho' pretenda com o inalcançável rapaz. Mas isso eu não posso garantir porque não consigo entender uma só palavra da letra da música que não seja "cadê seu namorado, moça?". De minha parte sugiro ao efusivo cantante que entre na justiça, solicite uma condução coercitiva para que, em depoimento, ele, o quimérico namorado, preste informações acerca do local onde se encontra e pela existência de possíveis (prováveis?) coiteiros.

Sugiro, também, aos impolutos deputados da Câmara Federal que entrem com um Projeto de Lei limitando o número de vezes que um compositor possa incluir em refrãos nas músicas. Talvez umas 365 vezes seja o suficiente para encontrar qualquer namorado.

E você, vizinho daí de trás. se estiver lendo essas tortuosas linhas, pelo amor da Santíssima Trindade: baixe o volume, nem que seja apenas nos domingos!