A vida do jornalista é muito dura. De dois em dois meses, por exemplo, o pessoal que dirige esta revista* manda um assunto para os colaboradores. Desta vez, mandaram um recado: "faz aí alguma coisa sobre a Chapada Diamantina". Suponho ser altamente embaraçoso para qualquer nordestino ignorar tudo a respeito da Chapada Diamantina, mas, na verdade, eu mesmo só sei duas coisas a respeito da Chapada Diamantina: o primeiro e o último nomes. O primeiro é Chapada e o segundo é Diamantina. O gentil leitor poderia ficar surpreendido em saber que existem pessoas que desconhecem até mesmo esse fato elementar a respeito da Chapada Diamantina.
A respeito da Chapada Diamantina, eu sei ainda uma história de índios. Como se sabe, os índios brasileiros, em sua maior parte, residiam no litoral ou em partes selecionadas do interior, onde andavam nus, brincavam de nobre selvagem e gritavam caramuru, caramuru à menor provocação. Atualmente, os índios enfrentam um certo problema, mas ainda vivem no litoral ou em áreas selecionadas do interior. A única diferença é que, no litoral, eles são usados como iscas (dizem que a Sudepe vai proibir, que é para proteger a alimentação do peixe brasileiro) e, no interior, as zonas reservadas são conhecidas como "cemitérios de bugres". São coisas.
Pois então eu sei uma história de índio acontecida na Chapada Diamantina, que ocorreu com um bandeirante (o bandeirante era uma Figura de Nossa História, que apareceu depois das entradas; atualmente é o contrário: primeiro a pessoa da bandeira e depois da entrada na polícia; são outras coisas). O bandeirante, que estava buscando diamantes, em nossas Verdes Matas, acabou enveredando por um caminho deserto, através da Chapada Diamantina, onde dormia sob o Céu de Anil. Um belo dia, esse bandeirante entrou por uma velha fazenda, onde viu restos de plantação depredados e incendiados, enfim, uma devastação total. Nessa ocasião, a Chapada Diamantina era ainda conhecida como Mar das Caraíbas, visto ter sido descoberta pelo mesmo pessoal que chamou a baía da Guanabara de Rio de Janeiro, que era um pessoal maio fraco das vistas. Então o bandeirante parou e disse:
- Cáspite! Que devastação! Nem parece o Mar das Caraíbas!
Quando estava assim meditando, o bandeirante ouviu alguns gemidos e, depois de muito procurar, terminou encontrando uma linda mulher, uma colona portuguesa (se o prezado leitor for português, queira substituir o a palavra por "holandesa", se for holandês, tudo bem), completamente nua e amarrada a quatro estacas fincadas no solo. O bandeirante deteve sua montaria, teve um gesto de surpresa e perguntou à moça o que tinha havido.
- Ih, moço! – disse ela. – Ainda bem que o senhor apareceu. O senhor nem imagina. Os índios apareceram, destruíram a fazenda toda, mataram meu marido, raptaram as crianças e me deixaram aqui nua, amarrada debaixo do sol para morrer. Ainda bem que o senhor apareceu.
O bandeirante ficou olhando aquela linda mulher, luzindo naquelas paragens e vagarosamente, foi descendo do cavalo e afrouxando o cinto.
- A senhora tem certeza que não tem mais ninguém por aí? – perguntou.
- Ninguém, eles mataram todos – falou ela.
- É, dona – disse ele, já apeado e desabotoando o colete. – Parece que hoje não é mesmo o dia da senhora, não.
Revista Viver Bahia