A cada momento você está construindo o seu passado

Era uma manhã comum, dessas que nascem devagar, sem pressa de iluminar o mundo. Enquanto tomava café, eu refletia sobre uma frase que desde a madrugada não me saía da cabeça: "a cada momento você está construindo o seu passado." Coisa de velhos, diriam alguns. E talvez seja mesmo coisa de velho, mas, pelo menos para mim, parecia uma daquelas máximas simples, mas com uma profundidade que só o tempo poderia desvendar.

A frase insistia em ecoar na minha mente. Em um contexto sociológico, nossa vida, como a de qualquer indivíduo, é um mosaico de interações e experiências que se entrelaçam, formando a teia complexa da existência. Cada decisão, cada palavra dita ou calada, cada gesto e omissão, adicionavam uma peça a esse mosaico. Eu percebi, então, que não vivia isolado; cada ação reverberava na vida dos outros e, por consequência, na sociedade.

Pensei nas minhas escolhas cotidianas, aparentemente triviais, mas que, em retrospectiva, formavam a narrativa de uma vida. Lembrei-me da primeira vez que decidi ajudar um amigo no seu crescimento educacional, um gesto que, na época, parecia simples. No entanto, esse momento específico havia moldado minha reputação e solidificado uma amizade que perduraria anos. Não cabe, aqui, detalhar a quem e qual a aludida ajuda.

A sociologia ensina que o passado é a soma de interações e contextos, e eu sou a prova viva disso.

Já no campo da filosofia, a frase ganhava outra dimensão. Construir o passado em cada momento implicava numa constante criação e reavaliação do próprio ser. Refleti, então, sobre a impermanência e a fluidez da vida. Cada instante vivido não poderia ser revisitado, mas deixava marcas indeléveis na tapeçaria do tempo. O filósofo Henri Bergson dizia que o tempo é duração e que nossa experiência do tempo é a consciência de nossa continuidade. Então compreendi que minha identidade era um processo em fluxo constante, um rio que se moldava à medida que seguia seu curso.

Essa perspectiva filosófica traz uma responsabilidade inegável: a de viver conscientemente. Cada ação, cada decisão, é uma pedra lançada no lago do tempo, criando ondas que se espalham em direção ao futuro. Vivendo de maneira consciente e intencional, estava não apenas moldando meu presente, mas também definindo as memórias que carregaria comigo e que constituiriam meu passado.

Com esses pensamentos, levantei da mesa. O sol já alto iluminava a rua, convidando a fazer parte daquele dia que ainda se desdobrava. Me sentia mais leve, como se compreendesse um pouco mais da complexidade da existência humana. Cada passo dado não era apenas uma simples caminhada, mas a construção de algo maior, de uma narrativa pessoal e coletiva que, um dia, seria a história da minha vida.

A frase que me acompanhara durante o dia agora parecia um lembrete gentil: viver é um ato de criação contínua. E com essa certeza, sai para o mundo, consciente de que cada momento era uma oportunidade de construir um passado do qual poderia me orgulhar.

Tenho pressa. Maria, minha netinha, me espera!