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Panorama internacional

'Sensibilidades decrescentes': a fórmula com que o Mercosul está se aproximando da China

A delegação chinesa saiu da reunião com o "compromisso" de apresentar um roteiro dos pontos em que se poderia avançar


Foto: Domínio público

Com o Uruguai na frente, o Mercosul reativou um mecanismo de diálogo direto com a China, buscando avançar para um acordo que também inclua tecnologia e investimento. Em um diálogo com a Agência Sputnik, dois analistas explicaram a estratégia em causa, que permitiria que as negociações se concentrassem, por exemplo, na cooperação tecnológica.

Aproveitando a presidência pro tempore do Mercosul, na segunda-feira (12), o governo uruguaio convocou em Montevidéu a VII reunião do Mecanismo de Diálogo entre os Estados-membros do Mercosul e a República Popular da China, que contou com a presença da vice-ministra da chancelaria chinesa, Hua Chunying.

A reunião, que não se realizava desde 2018, é destacada pelo governo de Luis Lacalle Pou como uma demonstração da importância que o país dará ao diálogo com Pequim durante este semestre, para avançar em um acordo entre o bloco sul-americano e o gigante asiático.

Após a reunião, o vice-ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Nicolás Albertoni, enfatizou a intenção de avançar em etapas "tangíveis" e de organizar essa etapa do diálogo com Pequim com base em "questões de sensibilidade decrescente", buscando avançar nas áreas de "cooperação e investimento" enquanto o diálogo não avança em termos de acesso ao mercado.

Sob essa premissa, a delegação chinesa saiu da reunião com o "compromisso" de apresentar ao Mercosul um roteiro dos pontos em que se poderia avançar, com vista a uma nova reunião do mecanismo, prevista para 2025.

Em um diálogo com a Agência Sputnik, o mestre uruguaio em política internacional Nicolás Pose considerou que, com a reunião, o Uruguai conseguiu "enviar um sinal ao Mercosul de que quer colocar a China no centro da agenda".

Para o analista, um dos pontos importantes que emergiu da reunião é o conceito de "sensibilidades decrescentes" acordado pelas partes, o que poderia permitir evitar o obstáculo da recusa da Argentina e do Brasil em remover tarifas, e considerar acordos sobre outros pontos.

"Acho que é razoável porque hoje uma eliminação recíproca de tarifas entre o Mercosul e a China não está na mesa e não é politicamente viável. É uma questão de deixar essa questão de lado e nos concentrarmos nas questões sobre as quais se pode chegar a um acordo", explicou o especialista.

Nicolás Pose destacou que, embora a Argentina e o Brasil talvez não estejam prontos para remover as tarifas, eles têm "muitos incentivos para ter uma agenda proativa com a China em várias dimensões".

Também consultado pela Agência Sputnik, o analista internacional Carlos Luján concordou que, embora os termos estritamente comerciais de um acordo possam parecer mais difíceis de negociar, o Mercosul poderia demonstrar à China que "a região está pronta para aumentar a cooperação em termos de inovação tecnológica".

"Não é apenas uma questão de vender carne ou comprar carros mais baratos. Isso é bom, mas o interessante é que podemos fazer parcerias em questões como o desenvolvimento de inteligência artificial ou computação quântica", disse Luján.

De fato, o especialista defendeu a necessidade de se pensar a relação entre o Mercosul e a China com uma mentalidade do século XXI e não do século XX, de modo a priorizar a cooperação e o investimento em vez da mera troca de mercadorias que, no caso do Mercosul, muitas vezes são bens primários.

"Podemos imaginar que amanhã haverá um centro de computação quântica em São Paulo, um laboratório de pesquisa de inteligência artificial em Montevidéu e uma fábrica de microchips em Buenos Aires", disse o especialista.

Ciúme europeu?

Luján defendeu a importância de negociar com a China no contexto de uma "reconfiguração do mundo em direção ao multipolarismo". Nesse contexto, "deixar de se vincular a um dos grandes polos mundiais não parece sensato".

Ele considerou que o bloco deve aproveitar a harmonia entre o Brasil e a China dentro do BRICS e respeitar a existência de "velocidades diferentes" que a Argentina, atualmente alinhada com a política externa dos EUA, e o Paraguai, com fortes relações com Taiwan, possam ter.

Na opinião de Luján, o próprio contexto multipolar poderia significar que até mesmo o avanço de um acordo com a China pode aumentar as possibilidades de desbloquear as negociações com a União Europeia, com quem o bloco sul-americano ainda não conseguiu chegar a um acordo definitivo.

"Quando você começa a se aproximar de um, os outros podem começar a perceber que você é interessante. Se a China olhar para o Mercosul, os europeus podem dizer 'nos descuidamos' e isso pode reavivar as negociações", especulou.



Agência Sputnik

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