A realização da COP 30 em Belém será um marco para reafirmar o compromisso do Brasil com a agenda climática, destacando o país como símbolo central na luta e no comprometimento com a redução de emissões de gases de efeito estufa, proteção da biodiversidade e promoção de uma transição energética justa, baseada na justiça social e no desenvolvimento sustentável.
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, apontou, em entrevista, que o Brasil se consolida como líder nas negociações e que o país tem utilizado sua ampla capacidade diplomática para construir consensos e impulsionar uma agenda climática ambiciosa que reflita as necessidades dos países em desenvolvimento. A ministra refletiu ainda sobre o papel estratégico do Brasil na consolidação de medidas que superem barreiras geopolíticas e que consigam promover parcerias inovadoras para o país.
Para Marina, a realização da Conferência no coração da Amazônia será a oportunidade de transformar discursos em ações concretas, liderando pelo exemplo e inspirando mudanças em escala global. "Espero que os brasileiros compreendam que nosso papel vai além das negociações: somos guardiões de recursos naturais essenciais para o equilíbrio planetário e, ao mesmo tempo, uma nação que precisa resolver desafios internos de forma integrada à luta global contra as mudanças climáticas", pontuou.
Confira os principais pontos da entrevista
IMPORTÂNCIA DA COP 30 — A COP 30 será uma oportunidade única para que o Brasil reafirme seu compromisso e protagonismo global na agenda climática, demonstrando que é possível liderar pelo exemplo com responsabilidade e justiça social e ambiental. Há uma simbologia relevante no fato de a COP 30 ser realizada em Belém, na Região Amazônica, que reforça o peso brasileiro no plano internacional e reafirma a relevância da floresta e de seus povos originários. Isso também nos impõe um desafio: mostrar que a COP 30 não será a COP do Brasil ou da Amazônia, mas a COP da implementação efetiva do enfrentamento à crise climática. Uma COP que será realizada em um contexto da grave crise ambiental global, em que, mais do que em qualquer outro tempo, viver se tornou cada vez mais impreciso. Por isso mesmo, será a COP do "implementar é preciso", parafraseando o poeta português Fernando Pessoa.
DESAFIOS — Em preparação à COP 30, em 2025, o Brasil pretende atuar de forma estratégica em pelo menos duas frentes de trabalho: a diplomacia das NDCs (Contribuição Nacionalmente Determinada) e a mobilização geral. No que diz respeito à diplomacia das NDCs, os próximos meses serão decisivos para reforçar o multilateralismo, construir confiança entre as partes e garantir que os compromissos assumidos em Belém reflitam a urgência da crise climática. Isso inclui o estabelecimento de NDCs ambiciosas e alinhadas à Missão 1,5 pelos países; a mobilização de recursos financeiros; o alinhamento de políticas nacionais e regionais aos objetivos do Acordo de Paris e a garantia de que as vozes das populações, sobretudo as mais vulneráveis, sejam ouvidas e consideradas nos processos de decisão.
MOBILIZAÇÃO GERAL — Uma das principais estratégias consiste na realização de um Balanço Ético Global (BEG) concebido para promover a reflexão do comprometimento ético de todos no enfrentamento às mudanças do clima. Ele será desenvolvido com a participação de um grupo geograficamente diverso e relevante, composto por pensadores, artistas, filósofos, cientistas, jovens, políticos, líderes religiosos, povos indígenas e comunidades tradicionais e outros representantes da sociedade civil. O objetivo é pensar a ação climática sob o prisma da justiça, da equidade e da solidariedade.
DIÁLOGO — Estamos trabalhando ativamente para promover o diálogo entre nações, buscando convergências entre as demandas dos países em desenvolvimento e as responsabilidades dos países desenvolvidos. O Brasil tem um papel único como ponte entre Norte e Sul Globais e está empenhado em liderar com ética, compromisso e uma visão de futuro que priorize a vida e o equilíbrio planetário. A presidência do G20 exercida pelo Brasil em 2024 reafirmou esses atributos, de maneira concertada com os organismos multilaterais e absoluto respeito à autonomia das nações.
AVANÇOS — Em um ano, podemos avançar em três frentes. Primeiro, estabelecer um caminho mais claro e vinculante para atingir a marca de US$ 1,3 trilhão ao ano, necessária para financiar a transição climática. Segundo, acelerar o processo de atualização das NDCs com metas mais robustas. Terceiro, fortalecer mecanismos de cooperação internacional que garantam maior transparência e responsabilidade nos compromissos assumidos.
EXPECTATIVAS — A COP 30 será um marco para reforçar o papel do Brasil como protagonista na agenda climática global. Os desdobramentos da COP29 desafiam o país a construir uma conferência mais ambiciosa e focada em resultados. Isso requer liderar pelo exemplo, promovendo articulações regionais e globais para que possamos, em Belém, dar um passo histórico no enfrentamento à crise climática. A boa notícia a dar ao mundo é que o Brasil está comprometido com esse esforço, e exercerá sua liderança e sua reconhecida capacidade de diálogo e negociação para que saiamos de Belém com resultados mais ambiciosos.
RECURSOS — Precisamos explorar soluções que mobilizem recursos de forma criativa e colaborativa, como a ampliação dos mercados de carbono bem regulados, parcerias público-privadas sustentáveis e a promoção de iniciativas financeiras inovadoras que atraiam investimentos privados. Um exemplo é a recém-lançada Plataforma de Investimentos para a Transformação Climática e Ecológica do Brasil (BIP), uma iniciativa para avançar nas metas climáticas nacionais. Uma vez operacional, a plataforma buscará escalar e otimizar investimentos de transição provenientes de todas as fontes, em apoio aos planos de transição climática do governo em setores-chave.
TFFF — Outra alternativa promissora é o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), criado sob a liderança do Brasil no G20, com o objetivo de fornecer suporte financeiro para a preservação das florestas tropicais, essenciais para a regulação do clima global. Além de financiar projetos de conservação, o TFFF tem potencial para alavancar recursos internacionais com base no reconhecimento do papel crucial que esses ecossistemas desempenham na mitigação e adaptação às mudanças do clima. Contudo, é fundamental que essas iniciativas respeitem os direitos humanos, promovam a inclusão social e sejam orientadas pelo princípio da equidade, garantindo que os benefícios sejam amplamente distribuídos e que as comunidades locais sejam protagonistas nessa transição.
FINANCIAMENTO ADEQUADO — Sem financiamento adequado, as ações necessárias para mitigar e se adaptar aos impactos climáticos ficam comprometidas, especialmente para os países mais vulneráveis, que não têm os recursos necessários para investir em infraestrutura, tecnologia e políticas públicas que atendam às necessidades de suas sociedades. A COP 30 no Brasil será uma oportunidade de redobrar os esforços para garantir que as promessas feitas não sejam apenas retóricas. Ou seja, que o acordo selado em Baku se traduza em justiça climática e apoio real para aqueles que mais precisam. Embora tenha reconhecido a necessidade de elevar os recursos de 100 bilhões de dólares para 1,3 trilhão de dólares por ano e reafirmar o compromisso por metas e recursos mais ambiciosos, o acordo selado em Baku ainda está longe de ser suficiente para suprir as necessidades dos países em desenvolvimento. Sem dúvida, isso aumenta a responsabilidade do Brasil na liderança da COP 30, em particular, mas também do mundo inteiro e de suas principais lideranças. Será necessário dedicar os próximos meses a um intenso diálogo e despertar a confiança para chegarmos a Belém num novo patamar. Sem um forte compromisso de realinhamento político e ações que resultem em resultados concretos, a perda de credibilidade e a desconfiança continuarão a minar até mesmo os melhores esforços multilaterais.
ACORDO DE PARIS — Incertezas geopolíticas, desigualdades históricas e divergências sobre responsabilidades financeiras foram alguns dos fatores que tornaram as negociações ainda mais difíceis e complexas do que já seriam originalmente. Essas dificuldades impediram a construção de consensos mais ambiciosos no âmbito do compromisso estabelecido pelo Acordo de Paris de que os países desenvolvidos têm a obrigação de fazer aportes que ajudem a financiar ações de mitigação e adaptação nos países em desenvolvimento, bem como alavancar recursos privados e a fim de assegurar uma base consistente para que esses países em desenvolvimento, sobretudo os mais vulneráveis, possam promover suas transições e ações de adaptação com a urgência que a gravidade da emergência climática exige.
CONFIANÇA — É fundamental reconhecermos que, sem um realinhamento de compromissos e ações concretas, estaremos sempre aquém do necessário para enfrentar a crise climática. A confiança entre as nações continua sendo um dos maiores desafios em um processo multilateral como esse.
Agência Gov