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Aventuras de Pente Fino - As Flores da Reconciliação

João das Botas

Por Jorge Matos em 06/12/2023 às 12:10:51

"Quando o Diabo não vem, manda o secretário". Todo mundo conhece, ou deveria conhecer essa frase, muito repetida por vovó Dedé quando se referia às peripécias de "Come Chorando", figura emblemática de Maragojipe, a cidade mais linda do Recôncavo Baiano.

A mesma frase eu posso utilizar ao falar de "Pente Fino", a quem já me referi aqui neste espaço. Repito a frase e acrescento que o Diabo é mesmo o "cão de calçolão", sócio de Belzebu e compadre do Capeta.

Pois bem, quando não encontrava nenhum desses parceiros para aprontar alguma, o Diabo enviava "Pente Fino". Deu-se assim naquela manhã de fevereiro, na história que passo a narrar a partir da próxima linha:

Era uma final de tarde de um domingo quente em Salvador, Bahia, quando Pente Fino se viu no meio de uma discussão acalorada com sua namorada, (vamos apelidá-la de Escova Dourada, já que ela pode não gostar de ser citada). Os ânimos estavam tão exaltados que Pente Fino, em um momento de impulso, decidiu que era hora de dar um tempo. Ele saiu porta afora, jurando que iria resolver tudo com um gesto romântico.

O sol já começava a se despedir do horizonte quando Pente Fino percebeu que a chave para o coração de Escova Dourada seriam as flores. Determinado a encontrar o buquê perfeito, ele se dirigiu às floriculturas da cidade. No entanto, o destino tinha outros planos para Pente Fino.

Ao chegar à primeira floricultura, a porta já estava trancada. Pente Fino, então, seguiu para a próxima, mas foi recebido pela mesma cena desoladora: portas fechadas, luzes apagadas e a certeza de que sua reconciliação estava escorregando pelos dedos.

Desesperado, ele recordou do cemitério do Campo Santo, onde as flores eram tão bonitas que podiam ressuscitar relacionamentos. Sem pensar duas vezes, Pente Fino partiu para o Campo Santo, com a esperança de salvar seu namoro.

Ao chegar no cemitério, Pente Fino ficou admirado com a beleza das flores que enfeitavam os túmulos. Era como se cada pétala carregasse consigo uma história de amor eterno. Determinado a reconquistar Escova Dourada, ele começou a colher as mais belas flores que encontrou.

No auge da colheita, Pente Fino se deparou com uma situação inusitada. Em uma sala de velório, avistou um defunto de semblante tranquilo descansando em seu caixão. Sem perder tempo, ele se aproximou e, constrangido, pediu licença para colher as flores.

"Com licença, meu amigo defunto. Eu sei que isso pode soar estranho, mas estou tentando salvar meu relacionamento, e as floriculturas já fecharam. Será que você se importaria se eu pegasse algumas dessas belas flores para presentear minha namorada?", suplicou Pente Fino.

Para sua surpresa, o defunto, com um sorriso amigável no rosto pálido, parecia acenar afirmativamente. Pelo menos não negou e, para Pente Fino, "quem cala consente". Pente Fino agradeceu efusivamente, pegou as flores e partiu em direção à casa de Escova Dourada, no bairro do Garcia, com esperanças renovadas.

Ao chegar à porta de sua amada, Pente Fino se ajoelhou, estendeu o buquê improvável e entregou as flores do Campo Santo. Ocorre que, por não terem sido compradas em floricultura, Pente Fino enrolou os talos das flores com a folha de um papel que destacou de um livro de velório, onde as pessoas assinam para confirmar presença. Lá, no dito papel, estava, solene, a logomarca do cemitério.

Escova Dourada, percebeu a artimanha mas, surpresa e tocada pelo gesto inusitado, não pôde conter o riso diante da criatividade de Pente Fino.

E assim, entre risadas e abraços, Pente Fino e Escova Dourada perceberam que o verdadeiro segredo de um relacionamento duradouro estava na capacidade de superar os desafios com amor, criatividade e, é claro, com flores um tanto quanto peculiares.

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