Na visão de membros do governo ouvidos pelo O Globo, referendo sobre Essequibo feito pelo governo venezuelano é um gesto de "sobrevivência política" de Nicolás Maduro, no entanto, investida atrapalha estratégia lulista de liderança na América Latina.
Nas últimas semanas, a América do Sul está acompanhando a escalada entre Venezuela e Guiana na disputa por Essequibo. E, não só pela proximidade das fronteiras, como também pela liderança na região sul-americana, a disputa começa a "respingar" no Brasil.
De acordo com o jornal O Globo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem escondido de seus auxiliares mais próximos a irritação crescente com Nicolás Maduro diante da escalada da crise.
Para integrantes do primeiro escalão do governo Lula, ouvidos pelo jornal, Maduro apelou ao referendo e agora à ameaça de invasão da região em um gesto desesperado de "sobrevivência política". Ao mesmo tempo, na avaliação de ministros próximos ao presidente, o venezuelano atrapalha a estratégia lulista de exercer liderança sobre a América Latina, relata a mídia.
Ainda segundo o jornal, no governo Lula há ministros comparando a ofensiva de Maduro com a do argentino Leopoldo Galtieri, que arrastou a Argentina em uma guerra contra o Reino Unido pelo controle do arquipélago das Malvinas, em 1982. O conflito resultou na morte de 650 argentinos e a derrota para Buenos Aires.
Na segunda-feira (4), após o resultado do referendo popular sobre o status de Essequibo, Maduro afirmou que a Venezuela vai "conseguir recuperar Essequibo", no entanto, emissários do governo brasileiro já avisaram que o Brasil não vai apoiar qualquer aventura na região.
Ontem (7), durante a Cúpula de chefes de Estado do Mercosul, Lula pediu "bom senso" a Caracas, acrescentando que o bloco "não pode ficar alheio" quanto a essa questão.
"Não queremos que esse tema contamine a retomada do processo de integração social [?] o que nós não precisamos aqui na América do Sul é guerra", disse o presidente, conforme noticiado.
O Exército Brasileiro também se antecipou e envio de 60 militares e blindados para reforçar a segurança em Pacaraima — cidade de Roraima próxima à tríplice fronteira com Venezuela e Guiana.
"Ali fica a Serra de Pacaraima, ou monte Roraima, que dificulta qualquer ação terrestre da Venezuela sobre a Guiana. O acesso natural seria cruzando o território brasileiro no norte de Roraima, e isso o Brasil não vai permitir. Os meios militares na região de Roraima já foram reforçados, caracterizando que não se permitirá a violação do nosso território. Logo, há sim o risco de o Brasil ser arrastado para a crise", disse reservadamente um general com experiência na região.
Também na quinta-feira (7), a crise ganhou mais um capítulo após os Estados Unidos anunciarem que farão exercícios militares com Exército da Guiana na região.
Agência Sputnik