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Aventuras de Pente Fino - a calça nova

João das Botas

Por Jorge Matos em 17/12/2023 às 12:01:33

A maioria dos leitores (ou seja: cinco ou seis) já conhece nosso personagem "Pente Fino". Mas é importante, melhor, imprescindível, que eu esclareça alguns detalhes comportamentais dessa figura. Faço-o sem o menor constrangimento: Pente Fino, além de preguiçoso, é um escroto. Teve aquela vez que ele roubou flores de um defunto num velório para dar de presente à namorada. Teve aquele dia que o cafajeste jogou no mar no Farol da Barra os jornais que deveria ter ditribuído e disse que fui eu o praticnte do delito. Conto nos parágrafos que seguem algumas características do despudorado.

Pente Fino era daqueles que perdia a amizade, a mãe, o pai, os avós, o cachorro, mas não perdia a piada. Certo dia me intimou a ir com ele numa clínica onde passaria por exame pré admissional.

- João -falou - já falei com umas 100 pessoas (ele gostava de usar do exagero para dar ênfase ao que falaria) e ninguém pode ir comigo na clínica. Só resta você...

- Tudo bem, Pente, eu vou - respondi 'lisonjeado' por ser o centésimo primeiro.

Obviamente, fomos. E por falar em obviamente, a clínica estava muito cheia. Sentamos numa sala de espera e fcamos horas aguardando o momento de Pente Fino ser chamado. As conversas das demais pessoas presentes no recinto eram indescritíveis, um verdadeiro tacho fervilhante de baboseiras. Uma das senhoras sentadas na fileira de cadeiras à nossa frente, com certeza a mais faladeira, dirigiu-se a um rapaz e exclamou: "vá lá e fale. Quem tem boca vai à Roma". Pente Fino, é claro, não perdeu a oportunidade: "então a senhora já deve ter dado umas dez voltas no mundo". O olhar da senhora, em retribuição à "bem humorada" frase, fulminaria uma boiada de bolsonaristas.

Teve, também, aquele dia no qual fomos almoçar no extinto restaurante "Baby-beef", que funcionava no Hiper Bompreço, bairro do Iguatemi, em Salvador. Era um restaurante tido como 'chic', cheio de empresários, políticos e outros 'bostéticos' da sociedade soteropolitana. Estavamos sentados aguardando a nossa refeição (o beef de tira era delicioso) e, na mesa ao lado, uma avantajada senhora pediu ao garçon:

- Traga uma picanha suína.

Foi então que Pente Fino exclamou:

- Uma porca, comendo um porco...

Acontece que ele estava de costas para a dita senhora e eu, de frente! O olhar que a senhora me dirigiu, acreditando ter sido eu o autor na famigerada frase, fulminaria, instantâneamente, alguns milhares de "trumpistas" em plena invasão do Capitólio. Tive que almoçar submetido à tortura daquele olhar.

Mas, seguramente, o dia em que Pente Fino passou o maior 'perrengue' merece ser contado com mais parcimônia: trabalhávamos em uma empresa de comunicação chamada Agate - Agência da Assessoramento Técnico Ltda, que funcionava no quinto andar do edf. Martins Catharino, na rua Chile, Salvador. Fomos admitidos, eu como "foca" de jornalismo e Pente Fino, que nunca gostou de estudar, como office boy. Um dia, José Gorender, sócio da empresa, mandou Pente Fino levar uma correnpondência na LR Turismo, cliente da Agate, que funcionava na praça da Inglaterra, cidade baixa. Pente Fino havia comido uma 'rabada' no "Porto do Moreira", tradicional restaurante no Largo das Flores.

Aqui um pausa para relembrar o "Porto do Moreira", dos irmãos Antônio e Chico, o primeiro infelizmente já falecido. Era um reduto de intelectuais, com uma cozinha excelente. Lá podiamos encontrar escritores do naipe de João Ubaldo Ribeiro, Guido Guerra, Ariovaldo Matos, publicitários como Domingos Leonelli, Roberval Luânia... Paro por aqui porque a saudade já me enche os olhos de lágrimas.

Voltando a Pente Fino: o cara desceu o Elevador Lacerda soltando puns fedorentíssimos, certamente poluindo a cabine do transporte público e cumpriu com o ordenado. Ocorre que, na volta, já na cabine do elevador, veio a vontade do "pum derradeiro" aquele que poucos conseguem conter (e que Pente Fino jamais tentaria) e Pente Fino soltou-o, sem dó. Mas não era um pum e sim a rabada já 'alquimizada' em uma pasta (dexa prá lá, vocês já sabem). A par da revolta dos demais passageiros, eu tive que ir, a pedido do chefe Gorender, na loja Lido, na esqina da rua Chile, comprar uma calça nova para Pente Fino.


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