Criada pela empresa Stella Tecnologia, a nova versão do drone de perfil militar Albatroz foi apresentada na Mostra BID Brasil, realizada na semana passada, em Brasília, e que reuniu os principais nomes do mercado de defesa brasileiro e delegações estrangeiras.
O Albatroz foi desenvolvido para o transporte de sensores, radares e pequenos mísseis e terá capacidade de realizar missões a 40 mil pés de altitude, o equivalente a 12 mil metros de altura. Ele conta com turbinas com tecnologia 100% nacional, desenvolvidas pela Aero Concepts, parceira da Stella Tecnologia no projeto, permitindo que chegue a uma velocidade de 250 km/h em missões críticas que demandam alta performance e alcance.
Em entrevista à Sputnik Brasil, Gilberto Buffara, CEO da Stella Tecnologia, afirmou que o Albatroz foi projetado para atender a uma necessidade específica da Marinha do Brasil, de fazer a operação de um drone a partir do Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico, o maior navio de guerra da América Latina.
"O Atlântico foi desenvolvido para helicópteros — ele é um porta-helicópteros —, mas a Marinha do Brasil quis estender a capacidade do Atlântico para poder operar drones [ ]. Então nós desenhamos uma aeronave que pudesse decolar e pousar usando o espaço que o Atlântico tem disponível na infraestrutura", afirmou Buffara.
O Albatroz é o segundo maior veículo aéreo não tripulado (VANT) de grande porte fabricado no Brasil. O primeiro é o Atobá, também desenvolvido pela Stella Tecnologia, com 8 metros de comprimento, 11 metros de envergadura e peso máximo de decolagem (MTOW, na sigla em inglês) de 500 quilos, que, por suas características, exige pistas de pouso maiores, com 400 metros de extensão.
À Sputnik Brasil, João Gabriel Burmann, professor da UniRitter e pesquisador do Instituto Sul-Americano de Política e Estratégia (ISAPE), aponta a turbina do Albatroz como um dos principais diferenciais do drone.
Isso porque, além de fazer com que ele alcance uma altitude maior, com atuação acima do teto de diversas aeronaves, inclusive algumas aeronaves civis, a turbina do Albatroz permite uma autonomia mais reforçada e maior capacidade de decolagem com mais peso.
"Então ele pode, eventualmente, ser utilizado para algum tipo de atividade logística ou, como se espera, como eu vi que é a expectativa da empresa, como uma plataforma de testes para armamentos", explica.
Ele enfatiza que, no momento, não há VANTs operando no Brasil que possuam armamento acoplado, ou seja, os modelos atuais não têm capacidade de disparar mísseis, explosivos ou carregar munição.
"Eles servem basicamente para funções de monitoramento e vigilância. Nós não temos ainda esses chamados drones de combate. Mas, uma vez que tu coloques uma turbina, e não um motor a combustão, tu tens ali uma possibilidade de autonomia maior, de alcance maior — a capacidade de empuxo-peso, que a gente chama —, uma relação empuxo-peso para decolagem com maior carga. Isso permite que sejam acopladas munições errantes [ ] ou até mesmo algum tipo de míssil pequeno, que seja ar-terra, para neutralizar algum tipo de ameaça."
Burmann acrescenta que o Albatroz também tem capacidade de operar em pistas curtas, de pelo menos 150 metros, o que o capacita para operar no Navio-Aeródromo Multipropósito Atlântico, que pertence à Marinha do Brasil, força que vai receber o primeiro protótipo do Albatroz.
"Provavelmente ele já vai ser utilizado para funções de monitoramento, auxílio em missões de busca e salvamento que sejam feitas pela Marinha do Brasil. Então, além da Força Aérea e do Exército, que já detêm os VANTs para monitoramento de fronteira, a gente vai ter essa possibilidade, esse uso um pouco mais disseminado, digamos assim, na Marinha do Brasil", afirma.
Burmann também chama atenção para o fato de a turbina do Albatroz ser composta por tecnologia 100% nacional, o que, segundo ele, é um marco para o setor no que diz respeito à busca pela soberania tecnológica na indústria de defesa.
"Isso é um grande marco mesmo, porque o Brasil tem uma deficiência muito forte ainda nessa questão da capacidade de produção de turbinas. As nossas aeronaves, as aeronaves da Embraer, elas não operam, por exemplo, com turbinas nacionais, são turbinas, todas elas, importadas. Essa questão da turbina importada várias vezes faz com que o Brasil seja refém, em certo sentido, de autorizações das donas das turbinas para o Brasil exportar esse material para outros lugares, ou então a gente está sujeito a vetos justamente dessas empresas."
Ele frisa que o fato de uma pequena empresa, que não começou há muitos anos, se unir a outra empresa brasileira para desenvolver uma turbina, mesmo que vá ser aplicada a uma plataforma de voo menor, com menos capacidade, mesmo que ainda não consiga mover uma aeronave completa de diversas toneladas, como é o caso de um caça, já é um grande marco.
"Porque é um início. É um bom começo, mostra a expertise de recursos humanos, mostra a capacidade de organização da inovação", afirma.
Fonte: Agência Sputnik