Portal de Notícias Administrável desenvolvido por Hotfix

Crônica

Minha Irmã, Vanja. A Pituba e suas memoráveis histórias.

Zé Peitinho


A Pituba hoje. Foto: Folha da Pituba

Não me recordo bem em que ano minha família se mudou do Campo Grande para a Pituba. Eu devia ter uns sete ou oito anos. Lembro ser uma rua de cascalho, estreita, com capim elefante dos dois lados e que terminava de um lado numa invasão, no terreno dos "Correios e Telégrafos", onde ficava o boteco de Salvador, e, defronte, o fim de linha dos ônibus da *VIBENSA e a entrada para o Colégio Militar de Salvador.

O boteco de Salvador e a entrada, antiga do Colégio Militar ficavam a uns quinhentos metros de minha casa, e tudo isso fazia parte da fazenda do Srº Joventino Silva. A rua era conhecida como Estrada do Cascão. Não havia postes com luz elétrica. A fiação visava apenas levar energia ao Colégio Militar, por isso à noite ao afastar-me um pouco de casa impressionava-me com "O Firmamento". Tenho pena das crianças que hoje, cegas pelas luzes da cidade, nunca viram o firmamento, muitas delas não tem ideia do que seja a visão do cosmo sem as luzes a cegar-lhe.

Meu pai e seus sócios, (do IC Shopping News), José Gregório Gorender e Maurício Naiberg compraram três das cincos casas construídas do lado esquerdo da rua de quem ia para o Colégio Militar. Antes de se chegar às cinco casas do conjunto só existiam mais duas casas de moradia do lado direito da rua. A casa de "Babão", Casa do saudoso Waltinho e de sua família, e a casa do zelador da Rádio dos Correios e Telégrafos.

Bem defronte de a minha casa existia um Terreiro de Candomblé, era uma construção toda feita de bambus com piso de cimento vermelho liso, tinha uns 10 metros de largura por uns 30 metros de comprimentos e os bambus se cruzavam numa altura mínima de oito metros. Era uma arquitetura estranha as comuns "telhas" feitas de redes de bambus trançadas.

As noites, homens e mulheres com fifós e lamparinas iam chegando e não demorava muito e os tambores: timbais, atabaques junto às cantorias harmonizadas por chocalhos começavam. Eu até gostava de dormir ouvindo as ladainhas, cantadas, provavelmente em nagô.

De minha casa à orla, ou av. Otávio Mangabeira, na época conhecidas como estrada da morte, distava uns dois quilômetros e meio. Era um trajeto que eu fazia, levado por minha Irã, Vanja, todas as manhãs para pegar o "lotação" para irmos a minha escola: Escola Tereza de Lisieux, que também ficava no bairro do Rio Vermelho. Minha irmã deixava-me na escola e seguia, a pé, para o colégio dela: Colégio Estadual Manoel Devoto.

Como minha mãe adoecera, esquizofrenia, coube a minha irmã fazer às vezes de mãe. Era Vanjinha a responsável por minha educação e respondia-me nas reuniões da escola. Onde Vanjinha ia eu ia atrás, inclusive atrapalhando seus namoros. Era com Vanjinha que eu, ainda criança frequentava o Clube Português ou o Iate Clube, na Barra onde meu pai era sócio. Minha Irmã era também a responsável por me vestir, levar-me ao dentista e outras obrigações. Lembro que comi a minha primeira banana split na lanchonete das "Lojas Americanas", que ficava num mini-shopping nas proximidades do Relógio de São Pedro, Centro. Não me recordo o nome.

Lembro que Ari, meu pai, não tinha muita noção do valor do dinheiro, já que sobrava sempre para Vanja me levar ao cinema e me fartar de banana split e, o troco das farras, meu pai nunca via. Vanja era uma figura emblemática na Pituba e no Clube Português, (mas isso são outras histórias).

Redação

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!