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Crônica

O acordar 'quântico'

João das Botas


Foto: Divulgação

Hoje eu acordei 'quântico'. É, eu sou assim. Tem dia que acordo quântico, tem dia 'macunaímico', tem dia 'aristotélico' etc. Mas hoje foi o dia de acordar 'quântico'. Prometo explicar cada uma das condições do acordar. De início, fico no quântico: sabe aqueles dias que você acorda achando que Deus fez o mundo para você se divertir? Que Ele trabalhou uma semana inteirinha para fazer tudo em conformidade com seu gosto e que só descansou porque você permitiu? Não sabe? Lamento. Acordar quântico é melhor que tomar uma cervejinha estupidamente gelada na praia e com acarajé. É melhor que... não, aí também não!

Antes que eu perca o fio de Ariadne da nossa história, volto a contar o acontecido: acordei 'quântico' e pensei "o dia está lindo, vou por o indefectível calção (é como antigamente chamávamos os shorts de hoje) e dar uma caminhada na praia". Pus e fui. Não sem antes tropeçar no meio-fio e ralar um dos joelhos no asfalto. "Tudo bem, faz parte. Nada é perfeito", resignei-me. O restante da caminhada foi ótima. Recebí uns cinco ou seis "bom dias" dos passantes, vi belas garotas pelo caminho e cheguei na praia. Caminhei pelas areias úmidas (adoro caminhar pela areia molhada da praia. Aumenta o esforço do caminhar, mas é muito legal) e eis que de repente lá estava ele. Um enorme rottweilei. Estava deitado, me observando, levantou-se e caminhou na minha direção. Sem sequer um som que infimamente indicasse qual a sua intenção. Não deu um pio, o filho de uma cadela. Não tentou argumentar, nadica de nada. Ele dava um passo em minha direção, eu dava quatro na direção do mar. "Ele não vai nadar mais rápido que eu, pensei". Lembrei que já fui bom nadador, só que há cinquenta anos. Hoje não sei... Quando a água chegou na minha cintura ele parou ainda na areia e sentou-se. Só então me dei conta de que estava com o celular e a carteira recheada de papéis e cartões nos bolsos do short. Pensei gritar por socorro, mas não foi necessário porque chegou uma mocinha e falou:

- Moço, não tenha medo. Ele não morde! Saiu andando e o dito cujo canídeo, ainda sem emitir nenhum som, pôs-se a segui-la.

"Melhor voltar para casa", pensei.

Mas o esforço do demo para estragar a minha "qunticidade acordativa" ainda permanecia. Passei na frente de uma loja de calçados e ouvi aquele detestável "cadê seu namorado moça?" na inconfundível voz de Nadson o Ferinha. Nada contra o cantante, porque ele lá e eu cá, nenhum mal advirá. Meu problema é o exagero de repetição da frase que dá nome à música.

Bem, "entre trancos e barrancos", consegui chegar em casa. Estava faltando luz. Apagão, para uns; falta de energia, para outros; pouco importa como o chamem, nada vai minimizar o problema. O pior é que me acostumei a tomar banho quente. Não adianta argumentarem que banho frio é melhor para a saúde etc e tal. Só tomo quente e pronto!

O jeito, claro, é aquecer a água no fogão e tomar banho de cuia, ou banho "tcheco", como dizem em Maragojipe. Coloquei a água para esquentar e, pasmem, o gás acabou.

Chega! não dá mais! Vou voltar (salgado da cintura para baixo) para a cama. Quem sabe eu não consiga dormir e acordar 'macunaímico'...

Quanto à explicação dos diversos tipos de acordar, deixo para a próxima. Se o leitor, ou leitora, claro, ficar chateado (ou chateada), sugiro que ponha pra tocar "Cadê seu namorado moça?" na voz do Nadson o Ferinha.


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