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Crônica

O Acordar Macunaímico

João das Botas


Foto: Grande Otelo / Youtube

Meu dileto amigo João Amorim me cobra diuturnamente, às vezes até noturnamente, que eu explique o acordar macunaímico, do qual falei, ou melhor, escrevi, dias atrás aqui neste espaço quando falei, ou melhor, escrevi sobre o acordar quântico. Tá meio confuso, mas vai assim mesmo porque o que João Amorim e Gláuber Coni me pagam para escrever crônicas aqui no HojeBahia só dá para escrever de forma confusa. Isso posto, cumprindo uma promessa afixada na aludida crônica, passo a explicar o acordar macunaímico que me acomete de vez em quando e de quando em vez.

Mas, antes, gostaria de postular - aliás, postular não; postular é pedir e eu quero é reivindicar, minha presença na confraria dos intelectuais vera-cruzenses. Tenho todos os predicados para tal honraria, vez que sou filho de jornalista e escritor, casei com duas jornalistas, em duas ocasiões diferentes, claro e já fui comprar cigarros para Glauber Rocha quando o Jornal da Bahia era na Barroquinha.

Sei que a oposição vai contestar meu pleito, aliás, minha reivindicação, alegando, dentre outros predicados negativos (existem "predicados negativos"? Vou pesquisar) o meu péssimo português.

Aqui peço vênia para explicar meu reconhecidamente péssimo português. Acontece que na minha adolescência eu estudei no excelente Instituto de Educação Isaías Alves (ICEIA), no Barbalho, Salvador, Bahia. Bem, "estudei" é forma de dizer. Na verdade eu frequentava o ICEIA para namorar. Sei que isso não é bom exemplo, mas eu prefiro dizer a verdade. E depois, o revisor do HojeBahia ganha mais do que eu e além disso precisa do emprego. Estou, portanto, contribuindo para manter o emprego dele e, consequentemente, aumentar o PIB brasileiro.

E por falar em verdade, eu tenho um amigo, não vou dizer o nome para preservar a aludida amizade,que toda vez que inicia uma frase frase, diz assim:

- Eu não vou mentir... e tasca a mentira, sem dó nem piedade. Não é Robertinho?

Voltando ao meu pleito (reivindicação) quero ser membro da Academia de Letras de Vera-Cruz, Bahia. e não só porque comprei cigarros para Glauber Rocha (ou teria sido para Guido Guerra? ou João Ubaldo? Sei lá!). Mas sim, também, porque apesar de não saber português (vocês precisam ver o meu inglês) sou versado em, dentre outras coisas: contar mentiras; fazer carne do sol; já viajei por quase todo o Brasil, incluindo Maragojipe e Nazaré das Farinhas; Namorei com Ediane, o que metade da Bahia tentou, mas não conseguiu; fumei maconha (uma vez, mas fumei); nunca amarrei bombas juninas nos rabos dos gatos; nadei na travessia Plataforma-Ribeira, ficando no honroso 93 lugar etc e etc. Mas, de todos os motivos, o que mais justificaria a minha admissão é o fato de que Antônio Carlos Magalhães (o original, não o genérico) é membro da Academia de Letras da Bahia, verdade que nunca li nenhum livro do magnificente (augusto, epopeico, gigantesco) escritor. Mas ando à procura de um para ler.

Tenho outro amigo que sacou uma tirada (lá ele!) que é a seguinte: no Brasil, quem merece receber a honraria de pertencer à Academia Brasileira de Letras são os leitores e não os escritores. Certa vez tentei contra-argumentar: "mas na Academia já quase não existem escritores"... fiquei sem a devida resposta.

Sim, sei que vocês estão ansiosos para entender o acordar macunaímico. Se não entenderam ainda, voltem ao início.

Se você gostou da crônica, o que demonstra um péssimo gosto, ajude o João das Botas com qualquer valor através do Pix 71994062444 (Lara Castro Matos) ele argumenta que precisa trocar os óculos.
Ass: O Editor

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