To be, or not to be?

"No princípio era o verbo", depois apareceram os adjetivos, os pronomes, e, triste sina, as preposições. E foi aí que decidi: serei bombeiro ou jogador de futebol. Aqui um adendo: se você, lindíssima (superlativo, né?) leitora ou preciosíssimo (idem) leitor esperava uma crônica sobre Hamlet ou um tratado filosófico sobre a construção do mundo em seis dias, pode tirar o pônei da garoa. Quero dedicar esses mal traçados parágrafos à melhor, mais bonita, mais cheirosa e, talvez, mais gostosa professora de português do Instituto Central de Educação Isaías Alves: Iracema.

Iracema era portadora do mais lindo par de joelhos da história da humanidade. Sem exageros. Quem disse que a perfeição não existe não conheceu os joelhos de Iracema. Eu costumava chegar mais cedo às aulas de português para desfrutar da mais bela cena do mundo que era a chegada dela à sala de aulas. O tão aguardado sentar descortinava a suprema beleza daqueles indescritíveis joelhos. O "boa tarde, João" soava como o toque sublime da lira de Orfeu. Seu olhar carinhoso rivalizava com o de Afrodite...

Iracema sempre fazia as provas, dividindo-as em gramática e redação. Isso me permitia boas notas, porque a arte de enrolar nas mal traçadas, superava minha incontestável ignorância às regras gramaticais. Minhas redações costumavam voltar com inúmeras correções, mas com boas notas e a palavra escrita no alto da página em letras dignas do estilo Bauhaus; puras, simples: Parabéns, sempre sucedida por uma exclamação. E como uma simples exclamação pode nos transportar para o mundo dos sonhos... e eu sonhava com a Professora Iracema.

Ontem encontrei com meu amigo Jorge Washington, também colega de classe, que me deu a triste notícia. Iracema havia falecido. Segundo Jorge, de pneumonia, aos 85 anos.

No Olimpo, onde certamente ela se encontra, Iracema seguramente rivaliza com Afrodite na beleza, na simpatia e na candura.