Nesta ensolarada manhã de quarta-feira, eu caminhava serelepe rumo ao mercadinho para compras rotineiras, quando fui despertado da "serelepice" pelo inconfundível toque do celular. Digo inconfundível pórque o dito cujo está programado para tocar a "marcha fúnebre" quando for 'chamada desconhecida'. Mas desta vez a marcha quase se torna o tema do personagem que aqui vos fala (vos escreve, aliás): por culpa dele (do celular), levei uma topada que me tirou um generoso pedaço do dedão do pé.
A vontade que tive foi de jogar esse pequeno retângulo tecnológico, que todo mundo carrega por aí como se fosse um membro da família, no quinto dos infernos. Só não o fiz porque lembrei que ainda faltam 3 prestações para quitar o pagamento desse filho de uma égua manca.
Já em casa, mais clamo, conclui que não importa onde você vá, ele está lá. No banheiro? Ele vai com você. No trabalho? Ele te distrai. Nos estudos? Ele te arrasta para um mundo paralelo de vídeos curtos e gatinhos fofos.
Depois de tomar uma cervejinha para adoçar a mente, adormeci e sonhei que, certo dia, João, um jovem estudante dedicado (pelo menos em teoria), sentou-se na mesa para estudar para a prova de física quântica — algo tão complexo que até Einstein teria que parar para coçar a cabeça. Com a mente preparada e o material todo organizado, ele prometeu que nada o distraíria dessa vez. "Hoje eu vou estudar sério", disse para si mesmo.
Cinco minutos depois, seu celular apitou. "É só uma olhadinha rápida", pensou. Tic-tac, um minuto virou dois, que viraram vinte, e de repente João estava em um vídeo ensinando a fazer omelete em 15 segundos. "Caramba, vou tentar isso depois!" Mais alguns cliques e ele já estava discutindo com desconhecidos sobre a existência de vida em Marte.
Enquanto isso, os livros de física ali, ao lado, implorando: "João, volta aqui! Nós existimos!" Mas era tarde demais. João já tinha caído no buraco negro do feed infinito.
Se você acha que essa história sonhada é exagerada, espere para ver o que aconteceu no trabalho da Ana na sequência do meu sonho. Ela estava prestes a enviar um e-mail superimportante ao chefe. Com um celular em mãos, claro. Antes de enviar, uma notificação piscou na tela: "Você foi marcada em uma foto." Pronto. O e-mail ficou em segundo plano e Ana mergulhou nas redes sociais.
De repente, Ana já não estava mais no escritório. Estava curtindo uma viagem para as Maldivas — virtualmente, claro. E lá se foram as horas. Quando se deu conta, o chefe já estava na porta da sua sala, com cara de quem tinha encontrado um papagaio organizando a papelada.
Acordei ainda pensando no celular e lembrei das reuniões de trabalho. Ah, as reuniões! Quem nunca fingiu estar prestando atenção enquanto deslizava o dedo disfarçadamente na tela do celular? Joãozinho da contabilidade estava falando há mais de 20 minutos sobre relatórios, mas o único relatório que alguns estavam realmente analisando era o último placar de um jogo de futebol de um time que nem gostavam.
No final, o celular, esse pequeno vilão travestido de herói da comunicação, acabou se tornando o mestre da procrastinação. Ele não perdoa ninguém. Estudantes, trabalhadores, avós jogando Candy Crush. O que antes era uma ferramenta de conexão, agora é uma máquina do tempo... que rouba o seu tempo!
De tudo aqui exposto, tirei uma lição: jamais levarei novamente o celular ao mercado.