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Literatura

Mais Confúcio e menos Leo Santana

Jorge Matos


Imagem: Pixabay

Caminhava tranquilo pela orla marítima de Mar Grande quando ouvi o estupefaciente comentário de uma garotinha que beirava os 10 anos, não mais que isso.

- Aí eu falei pra ela "você é uma velha coroca".

Seguiu-se uma risada alta, quase uma gargalhada, coadjuvada pela de outra garotinha com idade semelhante. Importa destacar que ambas estavam usando farda do colégio municipal.

Pus-me a raciocinar sobre o tratamento que os jovens atuais dão às pessoas mais velhas. Aliás, penso aqui com meu ziper (não tenho botões na bermuda): o que é ser uma pessoa velha? Tenho 71 anos de vida bem vivida, gozo de uma 'relativa boa saúde', ando seis quilômetros diariamente sem me cansar, tenho quase todos os dentes na boca (três são implantes) ainda consigo 'namorar' e, como dizia minha ex-sogra, Anália, "não me troco por essa juventude de hoje".

A velhice pode ser definida tanto filosoficamente quanto sociologicamente de maneiras distintas, refletindo diferentes perspectivas sobre o envelhecimento e o que significa ser uma "pessoa velha".

Filosoficamente, a velhice é frequentemente associada à reflexão sobre o tempo, a finitude e o significado da vida. Filósofos como Sêneca e Cícero abordaram a velhice como uma fase de sabedoria e maturidade, onde o indivíduo pode refletir sobre suas experiências e alcançar uma compreensão mais profunda da existência. Para Sêneca, a velhice é uma oportunidade para viver de acordo com a natureza e aceitar a inevitabilidade da morte como parte do ciclo natural da vida. Já Cícero, em sua obra "De Senectute" (Sobre a Velhice), argumenta que a velhice não é um fardo, mas uma fase que pode ser rica em realizações e satisfação, desde que o indivíduo tenha cultivado virtudes ao longo da vida.

Em uma perspectiva existencialista, a velhice pode ser vista como um momento de confrontação com a própria mortalidade e a busca por significado diante da finitude. Filósofos como Martin Heidegger e Jean-Paul Sartre enfatizam a importância de viver autenticamente, o que pode ganhar um significado especial na velhice, quando o tempo restante se torna mais palpável.

Sociologicamente, a velhice é entendida como uma construção social que varia de acordo com o contexto cultural, histórico e econômico. A sociologia do envelhecimento estuda como as sociedades definem e tratam as pessoas idosas, bem como os papéis sociais atribuídos a elas. Em muitas sociedades, a velhice é associada à aposentadoria, à diminuição da produtividade econômica e à dependência de cuidados, o que pode levar a estereótipos negativos e à marginalização dos idosos, que é exatamente o que está acontecendo com as duas meninas que mencionei.

No entanto, a definição de "pessoa velha" é relativa e muda ao longo do tempo e entre culturas. Em algumas sociedades, como a chinesa, por exemplo, a velhice é valorizada e associada a respeito, sabedoria e autoridade, enquanto em outras pode ser estigmatizada e associada a declínio e inutilidade. A sociologia também examina como fatores como gênero, classe social e etnia influenciam as experiências do envelhecimento, destacando que nem todos envelhecem da mesma maneira.

O confucionismo, que tem sido a base da cultura chinesa por milênios, coloca grande ênfase no respeito pelos mais velhos. Os idosos são vistos como detentores de sabedoria, experiência e autoridade moral. O conceito de "xiao" ou piedade filial, é central na ética confucionista e exige que os filhos cuidem e honrem seus pais e avós.

Em muitas famílias chinesas, os idosos são considerados a cabeça da família, e suas opiniões e conselhos são altamente valorizados.

Por tudo isso, imploro aos pais e educadores: mais "confúcios" e menos "leos santanas" na formação da nossa juventude.

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